SóProvas


ID
2971039
Banca
IBFC
Órgão
SEDUC-MT
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Quando era novo, em Pringles, havia donos de automóveis que se gabavam, sem mentir, de tê-los desmontado “até o último parafuso” e depois montá-los novamente. Era uma proeza bem comum, e tal como eram os carros, então, bastante necessária para manter uma relação boa e confiável com o veículo. Numa viagem longa era preciso levantar o capô várias vezes, sempre que o carro falhava, para ver o que estava errado. Antes, na era heroica do automobilismo, ao lado do piloto ia mecânico, depois rebaixado a copiloto. [...]

      Na realidade, os bricoleurs* de vila ou de bairro não se limitavam aos carros, trabalhavam com qualquer tipo de máquinas: relógios, rádios, bombas d´água, cofres. [...] Desnecessário dizer, assim, que desde que os carros vêm com circuitos eletrônicos, o famoso “até o último parafuso” perdeu vigência.

      Houve um momento, neste último meio século, em que a humanidade deixou de saber como funcionavam as máquinas que utiliza. De forma parcial e fragmentária, sabem apenas alguns engenheiros dos laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento de algumas grandes empresas, mas o cidadão comum, por mais hábil e entendido que seja, perdeu a pista há muito. Hoje em dia usamos os artefatos tal como as damas de antigamente usavam os automóveis: como “caixas-pretas”, com um Input (apertar um botão) e um Output (desliga-se o motor), na mais completa ignorância do que acontece entre esses dois polos.

      O exemplo do carro não é por acaso, acredito ter sido a máquina de maior complexidade até onde chegou o saber do cidadão comum. Até a década de 1950, antes do grande salto, quando ainda se desmontavam carros e geladeiras no pátio, circulava uma profusa bibliografia com tentativas patéticas de seguir o rastro do progresso. [...]

      Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas. Ninguém se assusta por não saber o que acontece dentro do mais simples dos aparelhos de que nos servimos para viver. [...]

      O que aconteceu com as máquinas é apenas um indício concreto do que aconteceu com tudo. A sociedade inteira virou uma caixa-preta. A complicação da economia, os deslocamentos populacionais, os fluxos de informação traçando caprichosas espirais num mundo de estatísticas contraditórias, acabaram por produzir uma cegueira resignada cuja única moral é a de que ninguém sabe “o que pode acontecer”; ninguém acerta os prognósticos, ou acerta só por casualidade. Antes isso acontecia apenas com o clima, mas à imprevisibilidade do clima o homem respondeu com civilização. Agora a própria civilização, dando toda a volta, se tornou imprevisível.

(César Aira. In: Marco M. Chaga, org. Pequeno manual de procedimentos. Tradução: Eduardo Marquardt. Cuuritiba: Arte & Letra, 2007, p.49-51)

* bricoleur: aquele que faz qualquer espécie de trabalho

Considere a oração “Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas.”(5º§) para responder à questão.


A oração em questão tem sua expressividade estruturada por meio da seguinte figura de estilo:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    “Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas.”

    --------> Faz uma comparação sem elementos (conjunções), classificando-se como uma metáfora, vivemos num mundo em que não sabemos usar plenamente as coisas e somente pessoas especializadas conseguem saber o funcionamento real.

    Força, guerreiros(as)!!

  • Um mundo de caixas-pretas existe? Não rsrsrs...

    Logo será uma metáfora.

    Metáfora é uma figura de linguagem que consiste no uso de uma palavra ou expressão com o sentido de outra com a qual é possível estabelecer uma relação.

    Gab: D

  • Gabarito: D

    Ironia: forma intencional de dizer o contrário da ideia que se pretendia exprimir. O irônico é sarcástico ou depreciativo. Ex.: Que belo presente de aniversário! Minha casa foi assaltada.

    Comparação: (ou SÍMILE) aproximação de dois elementos realçando pela sua semelhança. Conectivos comparativos são usados: como, feito, tal qual, que nem... Ex.: Aquela criança era delicada como uma flor.

    Eufemismo: atenuação de algum fato ou expressão com objetivo de amenizar alguma verdade triste, chocante ou desagradável. Ex.: Ele foi desta para melhor. (evitando dizer: Ele morreu.)

    Metáfora: é um tipo de comparação em que o conectivo está subentendido. O segundo termo é usado com o valor do primeiro. Ex.: Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas.

    Personificação: (PROSOPOPEIA ou ANIMISMO) atribuição de características humanas a seres inanimados, imaginários ou irracionais. Ex.: A vida ensinou-me a ser humilde.

  • Ironia: dizer o contrário do que queria. Ex: Você é ''linda''

    Comparação: aproximar elementos. Ex: Você é binita como uma flor.

    Eufemismoamenizar alguma verdade triste, ou desagradavel. Ex: Ele está no céu. ( pra não dizer: ele morreu)

    Metáfora: uma comparação com uma moral por trás. Ex: Em terra de cego quem tem olho é rei.

    Personificação: atribuir características humanas a seres irracionais. Ex.: A vida é alegre.

    FéNaMissão

    VaiDáCerto!

  • METÁFORA:consiste no emprego de uma palavra com sentido que não lhe é próprio.

    ex:.Dos meus olhos escorreram pérolas.

    GAB:D

  • Metáfora: Comparação com algum conectivo ou elemento comum aos seres comparativos, sendo eles mencionados, ou não, anteriormente.

    Nesse caso: “Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas.”

    Faz uma conexão com os carros, que tinham sido mencionados anteriormente!

    "Hoje em dia usamos os artefatos tal como as damas de antigamente usavam os automóveis: como “caixas-pretas”"

    Lendo o texto todo pode-se concluir que as damas não sabiam como funcionavam os carros, apenas os usavam. NÃO SABEMOS COMO AS COISA FUNCIONAM, VIVEMOS ALIENADOS..... Logo: METÁFORA

  • GABARITO: LETRA D

    Metáfora é uma figura de linguagem que consiste no uso de uma palavra ou expressão com o sentido de outra com a qual é possível estabelecer uma relação de analogia.

    Para que a analogia possa ocorrer, devem existir elementos semânticos semelhantes entre as palavras ou expressões em questão.

    relação de semelhança entre dois termos ocasiona uma transferência de significados, estabelecida através de uma comparação implícita.

    Exemplo de metáfora:

    Minha prima é uma flor.

    FONTE: WWW.SIGNIFICADOS.COM.BR

  • Metáfora - faz uma comparação sem expressar que está sendo feita.

    Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas.

    Compara-se com:

    • Vivemos num mundo resumido apertar um botão e pronto ; a girar a chave na ignição e só
    • Vivemos num mundo escuro
    • Vivemos num mundo onde ninguém tem habilidades "mecânicas" / técnicas em relação ao que se utiliza.