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ID
2978374
Banca
FCC
Órgão
SEMEF Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]

            O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

            Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.

            O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, no 27, pp. 45 e 47, 2018) 

O desenvolvimento do texto evidencia que o autor tem como prioridade:

Alternativas
Comentários
  • A letra E resume o cerne do texto. As autoridades em exercício é que compartilhavam as convicções, que se mostraram equivocadas, de que existiria uma raça pura, que o sangue europeu era melhor, que a religião católica era mais conveniente etc…

    Gabarito letra E.

    Vejamos:

    A) Incorreto. As informações históricas e estatísticas não se contrapõem às decisões dos governantes, mas sim as confirmam.

    B) Incorreto. O texto não foca na aprovação popular dos movimentos migratórios, mas sim da visão das autoridades e intelectuais.

    C) Incorreto. Alternativa perigosa: de fato alguns conceitos científicos equivocados, como a da raça pura, contribuíram para o preconceito. Contudo, a diversidade religiosa é um outro fator, não relacionado à questão científica. Negar a diversidade religiosa não foi um efeito dos conceitos científicos como a alternativa fez parecer.

    D) Incorreto. Embora o autor prove que o governo brasileiro não é tão acolhedor de imigrantes como sugere uma consciência coletiva, o autor não diz expressamente, muito menos toma como prioridade do texto, que o brasileiro como um todo é xenófobo e que isso é uma característica encoberta. Além disso, não há nada de “preconceito aleatório”. Os preconceitos citados eram fundados em certas convicções, não eram aleatórios.

  • GABARITO E

     

    "O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial".

    "O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais". 

  • eu estava em dúvida entre a C e a E, mas um termo da letra C me fez desconsiderá-la. A alternativa traz a seguinte redação: "atribuir a conceitos científicos mal compreendidos tanto o preconceito e a perseguição a estrangeiros", enquanto que o texto informa que as doutrinas eram, na verdade, falsas: "O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas". Qualquer equivoco avisem, por favor.

  • Como pode ser o Gabarito letra E se o autor claramente cita como motivo da imigração japonesa a escassez da imigração européia associada à demanda do mercado, fatores exógenos a qualquer "condição específica do imigrante"? Gabarito falso, a menos incorreta é a letra C, de gabarito também duvidoso. É revoltante a falta de lisura e objetividade das provas para concurso público no Brasil. Mesmo diante de erros crasos as bancas recusam a revisão. Ainda hei de ver o Ministério Público dar atenção ao caso.
  • As autoridades tinham convicção do imigrante ideal, assim como foi claramente destacado o perfil desse imigrante no texto: católico e branco. Gabarito E

  • Juliana,

    Leia o texto novamente. Não entendeu nada.

    Nota zero para você.