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ID
2978392
Banca
FCC
Órgão
SEMEF Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]

            O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

            Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.

            O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, no 27, pp. 45 e 47, 2018) 

Leia com atenção os trechos que vêm a seguir. Cada um deles apresenta segmento em destaque, que pode, ou não, estar presente como relevante argumento a favor da ideia expressa no trecho em que está inserido.


I. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos.

II. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista.

III . Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia.

IV. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

É correto afirmar que se trata de relevante argumento, como caracterizado acima, o que se lê APENAS em: 

Alternativas
Comentários
  • O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”.

    IApesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos.

    Rejeitavam os imigrantes que não condiziam com o objetivo exposto.

    IIQuando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista.

    Apesar do trecho validar o argumento central, o apontamento sublinhado é uma redundância enfática da chegada de "bons" imigrantes a bordo de um navio.

    IIIEssa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia.

    Ad nauseam: argumento que, válido ou não, é repetido até causar desconforto. Branqueamento foi tá documentado que reforça a tese.

    IVEla é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

    Diferença significante de imigrantes brancos e católicos, essas características era o desejado na formação do novo mundo.

    Dito tudo isso, percebam que a questão gira em reforçar a teoria com base no que foi sublinhado. Se tivesse uma opção com todas corretas, certamente eu teria marcado, como não tem concordo, em parte, com o gabarito.

    Gab. C

  • não entendi nada..rs

  • Eu não entendi essa questão.

  • o q está grifado que é relevante para a compreensão do texto (esclarece ou explica). I - explica que houve rejeições III - a forma como foi documentada IV - específica a % de que II - familias no navio, já está subentendido q estavam a bordo, portanto, desnecessário.
  • Questão do cão..... Não entendi foi nada.

  • GABARITO: LETRA C

    ===> A questão pede as alternativas em que os segmentos em destaque, que podem, ou não, estar presentes como relevante argumento a favor da ideia expressa no trecho em que está inserido.

    I. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. ===> (temos aqui uma informação indispensável, um argumento relevante para o entendimento do trecho).

    II. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. ===> (a informação somente reforça, mais é um argumento dispensável, percebemos se retirar da frase que o sentido permanece o mesmo e o entendimento que as famílias estavam a bordo é mantido).

    III . Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. ===> (temos aqui uma expressão que significa: até provocar náusea. É um argumento embasado que é indispensável para o valor textual).

    IV. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes. ===> temos um termo especificador, que é um argumento relevante e indispensável para a compreensão do trecho.

    Força, guerreiros(as)!!

  • Questão complexa, mas consegui resolver!

    Indiquem para comentário, pessoal....

  • Do dicionário Caldas Aulete: Raciocínio que se pretende baseado em fatos e em relações lógicas a partir deles, us. para se chegar a uma conclusão ou para justificá-la, para convencer alguém de algo etc.: Seus argumentos convenceram a todos. [ a favor de, contra, pró : argumento a favor de / contra/pró eleições diretas] 2. Indício ou prova us. para demonstrar, afirmar ou negar alguma coisa: As manchas de sangue na camisa foram o argumento definitivo contra o suspeito 3. Cin.Telv. Resumo do enredo de filme, novela etc.: O autor teve mais um argumento rejeitado. 4. Disputa verbal, discussão, contenda 5. O que se constitui ou pode se constituir em assunto, tema: Este é um bom argumento para sua tese. 6. Mat. A variável independente de uma função. 7. Ling. Termo que é sujeito de uma predicação. 8. Ling. Numa oração, cada termo que tem uma função sintática em relação a uma palavra que estabelece predicação [Na oração Pelé passou a bola para Zito, 'passar ' tem três argumentos: Pelé, bola e Zito.] 9. Fil. De acordo com a filosofia analítica da linguagem, termo que substitui uma variável em função, determinando seu valor, se verdadeiro ou falso. [F.: Do lat. argumentum, i.] Nenhuma das definições corresponde ao que pede o examinador. Se a banca quer inventar palavras, que as invente, mas é inadimissível não explicitar o que desejam do candidato na questão.
  • A questão queria a palavra ou expressão que não desse pra tirar sem prejuízo da compreensão do texto

  • A principio eu marquei a C pq ainda não tinha lido o texto, depois de ler marquei B e me ferrei. affffffffffffffe

  • No meu entendimento deveria ser apenas a segunda correto pois é a única que pode ou não estar presente que não tira o sentido do texto. Mas como não tinha ela como opção deduzi que ele queria as que se retirasse daria problema
  • Argumentum ad nauseam (em português, "argumentação até provocar náusea") é uma expressão em língua latina que se refere à argumentação por repetição, que consiste em repetir insistentemente a mesma afirmação até o ponto de, metaforicamente, provocar náusea.

  • Texto grande, questão relativamente complicada, porém queria saber se a frase sublinhada daria ou não suporte ao segmento que estava contida.

    Obs.: errei a questão :(

  • esse examinador queria rir dos concurseiros, só pode! kkkk

    Prova confusa, sem sentido! Fora do padrão!

  • Pai amado! O que esses examinadores andam usando?

  • Nossa! Que questãozinha. Consegui acertar, mas perdi um tempinho fazendo a questão.

  • Pense q esse "ad nauseam" separado por virgula servia pra nada..

  • I - "rejeição explícita a determinados grupos" informa que houve rejeição a alguns grupos de imigrantes por critérios racistas, o que funciona como argumento a favor da ideia "houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável".

    II - "a bordo" é uma informação redundante, não funciona como argumento para apoiar uma ideia.

    III - "ad nauseam" significa que várias e várias vezes já aconteceu a mesma coisa, o que funciona como argumento para apoiar a ideia de que "essa política de branqueamento já foi documentada".

    IV - "italianos" é um exemplo de povo branco, europeu e católico, que portanto apoia a ideia de que havia um "pano de fundo ideológico" para a política de crescimento da cidade de São Paulo. que desejava um tipo específico de imigrante.

  • Questão fácil da FCC até alegra a alma.

  • Tem alguma outra questão parecida da FCC ?