SóProvas


ID
2997652
Banca
CS-UFG
Órgão
IF-GO
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

“Língua solta”

            Você fala direito? Aposto que sim. Mas aposto também que, no calor de uma conversa animada, você já se flagrou engolindo o r de um verbo no modo infinitivo. A letra s, quando indica plural, costuma ser devorada nas rodas mais finas de bate-papo especialmente em São Paulo. Já os mineiros (até os doutores!) traçam sem piedade o d que compõe o gerúndio. No país todo, come-se às toneladas o primeiro a da preposição para. A primeira sílaba de todas as formas do verbo estar, então, essa já é uma iguaria difícil de achar. Portanto, poucos se espantam ao ouvir uma frase assim:

            “Num vô consegui durmi purquê os cara tão tocano muito alto.”

            Isso é errado?

            Depende. Se os seus olhos quase saltaram da órbita ao fitar a frase acima, leia em voz alta para perceber que ela não soa tão absurda. Expressões como tocano e vô consegui atentam contra a norma-padrão da língua portuguesa – ensinada na escola para preservar um código comum a todos os falantes do idioma. Do ponto de vista da linguística, entretanto, elas são só objetos de estudo. Retratam fielmente aquilo que o português brasileiro é hoje. E fornecem pistas sobre o que a língua padronizada pode vir a ser daqui a 10, 100 ou 1 000 anos.

            Um biólogo nunca diria que uma bactéria está errada, afirma o linguista Ronald Beline, da USP. A linguística – ciência que estuda a linguagem assim como a biologia se ocupa dos seres vivos – tampouco pode dizer se uma palavra está certa ou errada. De certo modo, a linguagem também é um organismo vivo. Elementos linguísticos, como células, nascem e morrem o tempo todo, modificando o sistema. Em todos os idiomas, palavras se alongam, encurtam e trocam de significado; expressões são criadas enquanto outras perdem a razão de existir; substantivos, verbos, adjetivos e advérbios emprestam sentido uns aos outros.

            Embora a linguística esteja longe de ser uma ciência exata, ela já foi capaz de identificar regras mais ou menos fixas no comportamento errático da linguagem verbal. Os mecanismos que regem essas metamorfoses são analisados no livro The Unfolding of Language (O Desdobramento da Linguagem, sem tradução para o português), uma das poucas obras digeríveis para quem não é familiarizado com o tema nem com o jargão de quem o estuda. Segundo seu autor, o israelense Guy Deutscher, a linguagem é um recife de metáforas mortas.

Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/lingua-portuguesa-a-lingua-solta/>. Acesso em: 18 dez. 2018. (Adaptado). 

O argumento de que “Expressões como tocano e vô consegui atentam contra a norma-padrão da língua portuguesa – ensinada na escola para preservar um código comum a todos os falantes do idioma” permite ao autor, na sequência, afirmar que

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    Depende. Se os seus olhos quase saltaram da órbita ao fitar a frase acima, leia em voz alta para perceber que ela não soa tão absurda. Expressões como tocano e vô consegui atentam contra a norma-padrão da língua portuguesa – ensinada na escola para preservar um código comum a todos os falantes do idioma. Do ponto de vista da linguística, entretanto, elas são só objetos de estudo. Retratam fielmente aquilo que o português brasileiro é hoje

    -----> OU SEJA, retratam o uso errado das categorias gramaticais de uma língua retrata os usos orais do português.

    Força, guerreiros(As)!!

  • Gab: B

    > A oralidade é muito marcada pelo coloquialismo, que nem sempre vai obedecer aos moldes corretos da gramatica. de forma que o uso errado das categorias gramaticais de uma língua retrata os usos orais do português.

  • Analisando bem a letra B é a resposta, mas fui de D.

    É preciso ter o dobro de atenção com questões de interpretação.

  • Será que o termo "errado" da alternativa B deveria vir entre aspas? Pois é consenso entre linguistas e inclusive tema do próprio texto, o fato de de não há "erro" na língua, apenas adequações e regramentos. Quase caí por me fixar neste termo sem as aspas. Enfim, pode ser muito pelo em ovo (pelo sem acento, rsrs) da minha parte. Bons estudos!

  • Cara, só eu que achei difícil e pra acertar tive que ler duas vezes kkkkk

  • Ao meu ver, a alternativa D tb está correta

  • Podemos enxergar a alternativa B Ao ler o trecho "...leia em voz alta para perceber que ela não soa tão absurda..." (l.7)

  • Discordo do gabarito, pelo enunciado da questão.

    "O argumento de que “Expressões como tocano e vô consegui atentam contra a norma-padrão da língua portuguesa – ensinada na escola para preservar um código comum a todos os falantes do idioma” permite ao autor, na sequência, afirmar que"

    O texto anteriormente até trata da questão da oralidade da língua em relação aos erros gramaticais, mas, na SEQUÊNCIA do texto, após o período que a questão transcreve, o autor traz informações relacionadas com o estudo da língua pela ciência e a contribuição implícita dos "erros".

    Ex: "E fornecem pistas sobre o que a língua padronizada pode vir a ser daqui a 10, 100 ou 1 000 anos."

    Ou seja, os usos equivocados da língua permitem que a pesquisa científica possa levantar hipóteses sobre as transmutações da língua em relação ao futuro, implicitamente algo benéfico, benevolente.

  • Alguém consegue encontrar o erro da letra D?

  • B).

    No primeiro parágrafo, o autor expõe, de maneira detalhada, os diversos "erros" gramaticais que são advindos, conforme o texto, dos usos orais do português(as conversas em diversos locais).

  • O uso errado das categorias gramaticais de uma língua retrata os usos orais do português.