Completando o comentário da colega:
Margaret Mahler foi uma autora psicanalítica que buscou fornecer uma visão sistemática do processo do desenvolvimento psíquico precoce normal em crianças de 0 a 3 anos. Ela trouxe 3 fases desse desenvolvimento:
1) Fase Autística Normal: refere-se ao 1º mês de vida. É chamada "autística" pela incapacidade do bebê de distinguir dentro e fora de si mesmo, mas há suscetibilidade à recepção de estímulos, diferentemente do que parece ocorrer na patologia do autismo. O bebê busca, em todo momento, recuperar a homeostase de seu organismo, tentando aliviar os estados de tensão por meio de suas capacidades fisiológicas ainda em maturação (controle de esfíncter, reflexos de tosse, choro, etc). Nessa fase, os aspectos fisiológicos dominam sobre os psicológicos. É pela libido da mãe investida no filho que há um deslocamento da libido do bebê do interior do corpo para a periferia e, posteriormente, para o ambiente. Nessa fase fala-se em 2 estágios do funcionamento do narcisismo primário: a) narcisismo primário absoluto ou incondicional (nas primeiras semanas de vida), onde tudo é percebido como fruto de si mesmo; e b) oscilação entre o narcisismo absoluto e a onipotência alucinatória condicional, na qual a satisfação começa a ser percebida como algo que vem de fora.
2) Fase Simbiótica: o termo "simbiose" descreve o estado indiferenciado de fusão com a mãe, no qual o "eu" ainda não está diferenciado do "não eu" e em que "dentro" e "fora" estão gradualmente começando a ser percebidos como diferentes. O início dessa fase ocorre por volta do 2º mês de vida e se caracteriza pela consciência difusa de que há um objeto gratificador. Nesse início da simbiose, há o estabelecimento mais pleno do fenômeno psíquico "ilhas de memória" (iniciado na fase autística). Visto que o objeto gratificador alivia a tensão no bebê, uma memória é estabelecida entre a tensão e o objeto, levando à diminuição dos reflexos (que ocorriam na fase autística) e ao estabelecimento da busca por tal objeto específico. Por volta dos 5 a 7 meses, o bebê começa a estabelecer uma distinção sutil entre os estímulos internos ao corpo e os externos (é chamado de período de exploração e ocorre no auge da fase de exploração tátil). Aos 7, 8 meses, há um esforço do bebê em desligar-se da mãe, deslocando sua libido para objetos externos que são substitutivos da representação materna (como o objeto transicional de Winnicott).
3) Fase de Separação-Individuação: a separação é a saída da criança da condição fusional com a mãe, já a individuação é o movimento de consolidação da individualidade. A separação advém da diferenciação e perdura durante os dois primeiros anos de vida, cedendo lugar, por volta do início dos 2 anos, ao processo de individuação. Essa terceira fase subdivide-se em a) diferenciação; b) treinamento; c) reaproximação e d) individuação e consolidação de objeto.
Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682018000300014