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ID
3038044
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Valinhos - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Assombro na porta da Colombo

            Youtubers, influencers e humoristas, com milhões de adeptos nas redes sociais, sequer imaginam a popularidade de que desfrutou Olavo Bilac. Em plena Belle Époque carioca, uma multidinha se formava em frente à confeitaria Colombo só para ver o Príncipe dos Poetas que, no auge dos 30 anos, era uma espécie de monumento da nação, cujos poemas eram devorados e decorados pelos leitores. 

            Como todo príncipe e todo monumento, caprichava na pose. Seu nome completo era um alexandrino¹: Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac. De elegante perfil parnasiano, postava-se de óculos para disfarçar o estrabismo. Também era prognata² e torcedor do Botafogo, mas moçoilas, madames e marmanjos não ligavam. Afinal, ele era capaz de ouvir e entender as estrelas.

            Com o tempo e o estigma (atribuído pelos modernistas) de poeta jocoso, tornou-se sinônimo de formalismo e alienação. Uma injustiça que se reflete hoje: até agora nada se fez para lembrar o centenário de sua morte, que se completa em fevereiro de 2018.

            Acusaram-no de indiferença ao cotidiano dos brasileiros. Besteira. Substituindo Machado de Assis, foi cronista semanal da “Gazeta de Notícias”, entre 1897 e 1908. Escreveu sobre Canudos e detalhou o processo de modernização do Rio. Não se pode entender aquele período sem ler Bilac, que como jornalista envelheceu melhor do que como poeta. 

                Numa crônica de 1901, em que tratou do uso das imagens na imprensa, antecipou a televisão e, incrível, as redes sociais: “Qual de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco tolices que desejaria ver apagadas ou extintas? Mas, ai! De todos nós! Não há morte para as nossas tolices!”. De pince-nez³, Bilac iria arrasar como youtuber. 

(Alvaro Costa e Silva. Folha de S.Paulo, 15.02.2018. Adaptado)

1. alexandrino: verso com dozes ílabas poéticas.

2. prognata: indivíduo cujos dentes incisivos da arcada inferior se fecham à frente dos incisivos da arcada superior.

3. pince-nez: um modelo de óculos cuja estrutura era desprovida de hastes e sua fixação era feita apenas sobre o nariz.

No terceiro parágrafo, os parênteses foram empregados pelo autor do texto para inserir______________ ; e, no último parágrafo, os pontos de exclamação foram empregados por Bilac para expressar______________

Para que o comentário a respeito da pontuação do texto esteja correto, as lacunas devem ser preenchidas, correta e respectivamente, por:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    3º PARÁGRAFO: Com o tempo e o estigma (atribuído pelos modernistas) de poeta jocoso [...] → os parênteses atribuem uma nova informação, sendo um aposto explicativo.

    ÚLTIMO PARÁGRAFO:  Numa crônica de 1901, em que tratou do uso das imagens na imprensa, antecipou a televisão e, incrível, as redes sociais: “Qual de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco tolices que desejaria ver apagadas ou extintas? Mas, ai! De todos nós! Não há morte para as nossas tolices!”. De pince-nez, Bilac iria arrasar como youtuber. → temos o descontentamento com a ideia de não ter como apagar as tolices escritas, fazendo alusão a um tempo futuro.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • substantivo masculino

    [Psicanálise] Amor excessivo pela própria imagem ou por si mesmo.

  • Na questão, pede-se o preenchimento de lacunas cujos conteúdos justifiquem o uso de certos sinais de pontuação pelo autor do texto.

    Sabe-se que os parênteses e o ponto de exclamação, elementos gráficos e de pontuação sobre os quais se deve atentar, apresentam, respectivamente e no geral, as funções de explicação e de sinalização de emoções. Basta saber como, no texto, a explicação e a emoção estão restringidas ou como são, no contexto, especificadas. Para isso, vejamos os fragmentos em que esses elementos estão presentes:


    Fragmento 1: “Com o tempo e o estigma (atribuído pelos modernistas) de poeta jocoso, tornou-se sinônimo de formalismo e alienação".

    Fragmento 2: “Mas, ai! De todos nós! Não há morte para as nossas tolices!".


    No fragmento 1, os parênteses oferecem explicação ao leitor, com a inserção da informação de que o estigma de Bilac tem relação com a rivalidade entre este e os escritores modernistas. Já no fragmento 2, ao expressar um tom de lamentação com “Ai de nós!", o autor usa o ponto de exclamação, sugerindo ser um problema para as pessoas o fato de não “haver morte para as nossas tolices".


    Com base na análise anterior, vejamos as opções para verificar qual delas descreve com exatidão a função dos parênteses e do ponto de exclamação:


    A)    um dado histórico ... seu narcisismo.

    ERRADA.

    Não há mostra de dado histórico pelo autor, mas sim esclarecimento sobre a origem do estigma relativo à imagem de Olavo Bilac. Não há mostra do narcisismo de Bilac, pois o poeta não enfatiza o seu próprio universo ou a sua imagem.


    B) uma nova informação ... seu descontentamento com a situação descrita.

    CORRETA.

    O autor acrescenta a informação de que, aos modernistas, cabe o estigma que atravessa Olavo Bilac na história da cultura e da Literatura Brasileira; Por sua vez, Bilac usa o ponto de exclamação para mostrar um murmúrio ou descontentamento em relação ao fato de que a publicação de nossas “tolices" não é esquecida.


    C) um comentário elogioso ... sua revolta contra a sociedade da época.

    ERRADA.

    Atribuir aos modernistas a imagem negativa que Olavo Bilac alcançou em cenário nacional não é um “comentário elogioso"; além disso, o poeta não expressa “sua revolta contra a sociedade da época" quando murmura “Ai de nós!".


    D) uma opinião pessoal... seu temor pelo futuro.

     ERRADA.

    O autor se embasa em informações do campo literário; e Olavo Bilac não expressa temor pelo futuro, apenas lamentação por uma constatação.


    E) uma observação sarcástica ... sua frustração com os admiradores.

    ERRADA.

    Não há tom de sarcasmo, ou deboche, por parte do autor, apenas esclarecimento. Ademais, Olavo Bilac não demonstra frustração com os admiradores, mas com uma atitude que muitos de seus admiradores – e até ele mesmo, ao usar o pronome “nós" – têm, mas que pode provocar problemas, pois as “tolices", quando publicadas, não são esquecidas.


    Resposta: B