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ID
3066988
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder a questão.

         O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]
        O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.
         Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.
         O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.
(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, nº 27, pp. 45 e 47, 2018) 

Rafael Cardoso, quando menciona

Alternativas
Comentários
  • GABARITO D!

    A) (parágrafo 1) os milhões [de africanos] que já haviam ingressado escravizados no país, critica, de modo subliminar, a política oficial de imigração, na época citada, por ter ela privilegiado consensualmente a entrada de africanos. Incorreto. A escravatura não foi um regime oficial de imigração, também nunca foi consenso privilegiar africanos. A política oficial era privilegiar europeus católicos.

    B) (parágrafo 1) já sob a República, manifesta acreditar que a nova forma de governo contribuiu para maior efetividade das políticas públicas sobre o controle de imigração, tendo em vista a possibilidade de debates mais democráticos. Incorreto. Apenas registra que naquele momento o governo já tinha mudado, não disse de forma alguma que esse governo era mais eficiente em controlar a imigração.

    C) (parágrafo 2) o crescimento da cidade de São Paulo, apresenta o único argumento a favor das imigrações ocorridas no período citado, no caso, imigração de italianos, entendendo que ela vinha embasada em consistente ideologia. Incorreto. Não é o único argumento favorável nem se restringe aos italianos: judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

    D) (parágrafos 3 e 4) os três motivos, os dispõe em categorias e tece considerações com que justifica a terminologia adotada e fundamenta seu ponto de vista sobre o fracasso do ideal das autoridades brasileiras acerca do tipo de imigrante desejável no período citado. Correto. O autor divide a causa em três componentes, categorizados como “concreto”, “circunstancial” e “conceitual”. Depois explica o motivo de ter usado cada categoria:

    O primeiro é concreto porque as doutrinas eugenistas estavam equivocadas, não há concretamente uma raça pura.

    O segundo é circunstancial porque houve uma discrepância entre oferta de imigrantes e demanda de trabalhadores, algo ligado àquele momento específico, àquela circunstância histórica.

    O terceiro é conceitual porque parte de um conceito que fundamentava o mito do bom católico era falso: havia outras religiões.

    E) (parágrafo 4) um pressuposto falso, demonstra entender que mesmo os católicos, quando em situação de imigrantes na referida época, no Brasil, eram capazes de, estrategicamente, ignorar a presença de outras religiões.Incorreto. Quem ignorava não eram os imigrantes, mas sim os defensores do “modelo de assimilabilidade católica”

    PROF FELIPE LUCCAS - ESTRATÉGIA CONCURSOS (https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/iss-manaus-portugues-prova-comentada/)

  • A questão requer compreensão e interpretação de texto.


    ALTERNATIVA (A) INCORRETA - O autor não critica a entrada de africanos, mas a crítica que ele faz à política oficial de imigração é, se o consenso é impedir a entrada dos chineses a fim de evitar uma degeneração racial, então por que permitir a entrada de africanos escravizados se haveria de qualquer forma a degeneração racial.


    ALTERNATIVA (B) INCORRETA - (parágrafo 1) já sob a República, o autor salienta que, mesmo passado algumas décadas, de 1860 a 1890, a questão do impedimento dos imigrantes chineses ao Brasil foi de fato decretado, então não houve uma contribuição do novo governo em relação à política de imigração.


    ALTERNATIVA (C) INCORRETA - O autor não emite sua opinião, apenas relata os motivos sobre a preferência das autoridades da época pelos imigrantes italianos.


    ALTERNATIVA (D) CORRETA - O autor explica cada motivo e ainda defende sua tese com argumentos válidos expondo o porquê das autoridades da época terem fracassado em relação ao tipo de imigrante desejável na época citada.


    ALTERNATIVA (E) INCORRETA - O erro está na palavra “estrategicamente", pois não era uma estratégia ignorar a diversidade religiosa, era o que de fato se achava: que a população brasileira era homogênea em termos de religião.


    GABARITO DA PROFESSORA: ALTERNATIVA (D)

  • Em questões longas como essa da FCC geralmente a resposta certa está entre as últimas alternativas.Cuidado,nem sempre isso acontece, mas é preferível que comecem pelo fim ,ou seja,da E.

    As bancas querem nos pegar pela exaustão!.

  • E ai, tudo bom?

    Gabarito: D

    Bons estudos!

    -Os únicos limites da sua mente são aqueles que você acreditar ter!

  • Gabarito D:

    O primeiro, concreto,....

    O segundo, circunstancial, ....

    O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. ....

    Os 3 motivos dispostos em categorias