SóProvas


ID
3077224
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Porto Velho - RO
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 2

- Leia o texto abaixo e responda à questão.


A FUGA


      Olho em volta: onde estão meus companheiros? Eram muitos, mas amigos de fato, três apenas. Onde estão “Espírito” e “Esmagado”? Penso na esquina de rua quieta, o cimento da calçada, sinto, agora, o seu contato na minha perna. A esquina estará vazia a esta hora, nesta tarde. Ou outros meninos talvez comecem ali, sem o saber, a jogar a sua vida.

      Foi uma escova de dentes que me fez, agora, pensar neles. Ah, os objetos: esta escova de dentes, que uso todos os dias, só agora se abre e me fala de mim.

      Vamos fugir? Essa ideia nos fascinava. Várias vezes ela se impôs a nós, misturada com perspectivas fascinantes. Mas nunca com a decisão daquela vez. A ideia acudiu aos três ao mesmo tempo, e era a solução para nossos problemas: tínhamos, cada um, uma bruta surra à nossa espera, em casa. Há três dias, entrávamos para dormir altas horas da noite e saíamos antes de os adultos acordarem. Mas não poderíamos nos manter assim por muito tempo.

      Tínhamos nossas economias. Trabalhávamos à nossa maneira, juntando restos de metal para vender num armazém da Praia Grande (fora alguns expedientes menos honestos). Planejamos tudo: pegaríamos o trem e viajaríamos escondidos até onde pudéssemos; se descobertos, esperaríamos outro, e assim chegaríamos a Caxias, depois a Teresina. E, em Teresina... Em Teresina, que faríamos? Nossas indagações não chegavam até lá.

      Precisávamos de alguns troços: sabonetes, pasta de dentes, escova de dentes. Era só. Não sei por que dávamos tanta importância a tais objetos numa hora de tão grave decisão. Fomos a alguns bazares da cidade e roubamos o necessário. 

      A fuga se daria pela madrugada. Voltaríamos à casa, pegaríamos nossas roupas e iríamos dormir na estação de trem. Tudo acertado, tomamos cada um o rumo de casa. Eram pouco mais de seis horas da tarde.

      Entrei escondido e, no quarto, comecei a embrulhar as roupas. A família jantava: ouvia o rumor de pratos, talheres e vozes. Pronto o embrulho, decidi-me a sair, mas, ao cruzar o corredor, vejo meu pai de cabeça baixa sobre o prato. Ouço a voz de minha irmã mais velha. Estremeci. Que saudade já sentia de todos, daquela mesa pobre, daquela lâmpada avermelhada e fosca. Um soluço rebentou-me da boca, e fui descoberto.

      Em breve, estava feliz, as pazes feitas. Distribuí meus pertences de viagem entre irmãos: a este o sabonete, àquele a pasta, àquela outra a escova de dentes azul. Azul como esta, que uso hoje.

GULLAR, Ferreira. Ferreira Gullar: crônicas para jovens. Seleção, prefácio e notas biobibliográficas Antonieta Cunha. 1ª ed. São Paulo: global, 2011, p. 95-96. 

No trecho: “esta escova de dentes, que uso todos os dias, só agora se abre e me fala de mim” (2º §), o termo sublinhado é classificado como pronome relativo, pois funciona sintaticamente como conectivo da oração adjetiva, além de função discursiva anafórica, substituindo a expressão “escova de dentes”. Dos itens abaixo, aquele em que o termo sublinhado está em função sintática e discursiva idêntica à referida acima é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    → “esta escova de dentes, que uso todos os dias, só agora se abre e me fala de mim” (2º §)

    → temos um pronome relativo, o qual retoma o termo "escova de dentes", dá início a uma oração subordinada adjetiva explicativa (entre pontuação); quem usa, usa alguma coisa (escova de dentes → que → função de objeto direto, é o que queremos):

    >>> Era uma escova azul como esta, que guardava consigo. → temos um pronome relativo, o qual retoma o termo "escova azul", dá início a uma oração subordinada adjetiva explicativa (entre pontuação); quem guarda, guarda alguma coisa (escova azul → que → função de objeto direto).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • QUE é objeto direto do verbo uso, logo tem que achar nas alternativas outro objeto direto.

  • GAB DDDDDDDDD

    Era uma escova azul como esta, que guardava consigo.

    QUE = PRONOME RELATIVO

  • (A) Que saudade sentiria de todos.

    Neste caso o "que" tem função de Pronome adjetivo indefinido.

    (B) Eles não sabiam por que estavam fugindo.

    (C) Chegando a Teresina, que fariam?

    Neste caso o "que" tem função de Pronome adjetivo interrogativo.

    (D) Era uma escova azul como esta, que guardava consigo.

    Pronome relativo, pode ser substituído por "a qual"

    (E) O menino sentiu tanta saudade da família, que desistiu de fugir.

    Conjunção subordinativa consecutiva. ( Ideia de consequência)

  • Pessoal, alguém poderia explicar melhor? Não consigo ver o que o Arthur Carvalho escreveu aqui:

    >>> Era uma escova azul como esta, que guardava consigo. → temos um pronome relativo, o qual retoma o termo "escova azul", dá início a uma oração subordinada adjetiva explicativa (entre pontuação); quem guarda, guarda alguma coisa (escova azul → que → função de objeto direto).

    Para mim, o 'que' da alternativa acima retoma outra coisa: 'uma pessoa guardava a escova consigo' e não 'a escova azul guardava consigo'.

    Marquei a letra E: 'O menino sentiu tanta saudade da família, que desistiu de fugir.' Aqui eu entendo melhor que 'o menino desistiu de fugir', logo, o 'que' retoma menino.

  • Gabarito: D

  • Tente trocar o QUE das alternativas por A QUAL. Se conseguir substituir terá a resposta.

  • o   Gabarito: D.

    .

    A: pra mim, discordando do colega, é advérbio, podendo ser substituído por "muita".

    B: pronome interrogativo.

    C: pronome interrogativo.

    E: conjunção subordinativa adverbial consecutiva.