SóProvas


ID
3077227
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Porto Velho - RO
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 2

- Leia o texto abaixo e responda à questão.


A FUGA


      Olho em volta: onde estão meus companheiros? Eram muitos, mas amigos de fato, três apenas. Onde estão “Espírito” e “Esmagado”? Penso na esquina de rua quieta, o cimento da calçada, sinto, agora, o seu contato na minha perna. A esquina estará vazia a esta hora, nesta tarde. Ou outros meninos talvez comecem ali, sem o saber, a jogar a sua vida.

      Foi uma escova de dentes que me fez, agora, pensar neles. Ah, os objetos: esta escova de dentes, que uso todos os dias, só agora se abre e me fala de mim.

      Vamos fugir? Essa ideia nos fascinava. Várias vezes ela se impôs a nós, misturada com perspectivas fascinantes. Mas nunca com a decisão daquela vez. A ideia acudiu aos três ao mesmo tempo, e era a solução para nossos problemas: tínhamos, cada um, uma bruta surra à nossa espera, em casa. Há três dias, entrávamos para dormir altas horas da noite e saíamos antes de os adultos acordarem. Mas não poderíamos nos manter assim por muito tempo.

      Tínhamos nossas economias. Trabalhávamos à nossa maneira, juntando restos de metal para vender num armazém da Praia Grande (fora alguns expedientes menos honestos). Planejamos tudo: pegaríamos o trem e viajaríamos escondidos até onde pudéssemos; se descobertos, esperaríamos outro, e assim chegaríamos a Caxias, depois a Teresina. E, em Teresina... Em Teresina, que faríamos? Nossas indagações não chegavam até lá.

      Precisávamos de alguns troços: sabonetes, pasta de dentes, escova de dentes. Era só. Não sei por que dávamos tanta importância a tais objetos numa hora de tão grave decisão. Fomos a alguns bazares da cidade e roubamos o necessário. 

      A fuga se daria pela madrugada. Voltaríamos à casa, pegaríamos nossas roupas e iríamos dormir na estação de trem. Tudo acertado, tomamos cada um o rumo de casa. Eram pouco mais de seis horas da tarde.

      Entrei escondido e, no quarto, comecei a embrulhar as roupas. A família jantava: ouvia o rumor de pratos, talheres e vozes. Pronto o embrulho, decidi-me a sair, mas, ao cruzar o corredor, vejo meu pai de cabeça baixa sobre o prato. Ouço a voz de minha irmã mais velha. Estremeci. Que saudade já sentia de todos, daquela mesa pobre, daquela lâmpada avermelhada e fosca. Um soluço rebentou-me da boca, e fui descoberto.

      Em breve, estava feliz, as pazes feitas. Distribuí meus pertences de viagem entre irmãos: a este o sabonete, àquele a pasta, àquela outra a escova de dentes azul. Azul como esta, que uso hoje.

GULLAR, Ferreira. Ferreira Gullar: crônicas para jovens. Seleção, prefácio e notas biobibliográficas Antonieta Cunha. 1ª ed. São Paulo: global, 2011, p. 95-96. 

No período: “Ah, os objetos: esta escova de dentes, que uso todos os dias, só agora se abre e me fala de mim” (2º §), a figura de linguagem que confere expressividade a esse trecho é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    →  “Ah, os objetos: esta escova de dentes, que uso todos os dias, só agora se abre e me fala de mim

    → temos uma prosopopeia ou personificação, é atribuído características de um ser humano a um ser inanimado, a um objeto (a escova).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • ___ uma escova de dentes falante. isso é personificar um ser inanimado>>>>> FIGURA DE LINGUAGEM

    PROSOPOPEIA OU PERSONIFICAÇÃO

  • Gabarito C

    Personificação

  • Gabarito: C

  • Elipse: quando há omissão de um termo que pode ser subentendido no texto: “A cidade dormia, ninguém na rua.” (falta ‘estava’).

    Onomatopeia: indica a reprodução de sons ou ruídos naturais: "ai", "atchim".

    Metáfora: Comparação IMPLÍCITA: "ser como uma múmia de si mesmo".

    Catacrese: Metáfora já muito utilizada

    Metonímia: Troca de termos que possuem afinidade: “adoro ler Maurício de Souza”.

    Perífrase: Trocar um SER por uma CARACTERÍSTICA: “rei da selva (leão)”;

    Pleonasmo: repetição de palavras que tem o mesmo significado: “sair para fora”.

    Antítese: Ideias opostas, que se referem a seres diferentes sem nenhuma razão: cabelo x ideia: ‘cabelos longos, ideias curtas’.

    Paradoxo: Ideias absurdas; contrárias, mas que se referem a um só ser: “mudaram as estações, nada mudou”.

    Eufemismo: suavização intencional de ideias: “partiu dessa pra melhor”.

    Ironia: diz o contrário do que se pretende com o objetivo de dizer o que se pretende.

    Hipérbole: exagero Intencional: “calor infernal”.

    prosopopeia/personificação.  figura pela qual o orador ou escritor empresta sentimentos humanos e palavras a seres inanimados, a animais, a mortos ou a ausentes

    SÍMILE: Comparação explícita..

    ZEUGMA: omissão de um termo já dito.

    POLISSÍNDETO: vários conectivos.

    ASSÍNDETO: nenhum conectivo.

    ALITERAÇÃO: repetição de consoantes.

    ASSONÂNCIA: repetição de vogais.

    PLEONASMO ENFÁTICO: reforçar a ideia.

    IRONIA: sarcasmo.

    GRADAÇÃO: ascensão.

    ONOMATOPEIA: é uma figura de linguagem que significa o emprego de uma palavra ou conjunto de palavras que sugerem algum ruido.

    HIPÉRBATO: inversão, ordem indireta da frase.

    SINÉDOQUE: subs. do todo pela parte.

    SINESTESIA: mistura de sentidos.

    PROSOPOPEIA: personificação de coisas.

    PARONOMÉSIA: trocadilho.

    APÓSTROFE: vocativo.

    SILEPSE: concordância com a ideia.

    ANÁFORA: repetição.

    ANACOLUTO: interrupção