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ID
3077614
Banca
FCC
Órgão
EMAE-SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Batizada Arlette e sublimada como Fernanda, a atriz carioca moldou − e continua moldando − cada personagem vivida no rádio, no teatro, no cinema e na televisão por 75 anos. Leia abaixo um trecho da entrevista de Fernanda Montenegro à Revistae.


Por viver tantos personagens, o ator não se torna um ser diferente?

− Nós somos estranhos. Porque, o que é que nós somos? Esquizofrênicos? Só não estamos num hospício porque nos aceitamos e nos aceitam quando acertamos. É uma vida dupla. Você tem um espetáculo à noite e faz toda sua vida durante o dia, seja ela qual for, uma vida calma, incontestada, desassossegada, e à noite, você tem que dar conta de outra esfera. Ninguém te obriga a ir [trabalhar]. Nem quando você passa pela perda de um amor. A gente até acha que aquele amor teria gostado se você fosse lá fazer seu espetáculo. Ítalo Rossi perdeu um irmão num desastre e fez o espetáculo da noite. Estou contando um caso extremo, mas isso acontece.


Em casos como esse dá para guardar as emoções?

− A gente não guarda emoção. A gente vai [trabalhar] com o que acontece, com o que bate na hora. Cada plateia provoca outro estágio no espetáculo. Tem sempre alguma coisa [que muda] porque é tudo muito sutil, embora você faça sempre o “mesmo” gestual. É algo imponderável e inexplicável. Porque é o seguinte, não é só uma pessoa, um elenco e a plateia. Ali tem que haver uma comunhão. Porque às vezes um ator está de um lado do palco, outro ator está do outro lado, eles se olham e dizem: “Hoje não vai sair como a gente quer”. É uma energia cósmica. Mas nunca é exatamente a mesma coisa. Não é. Tanto que às vezes uma pessoa vai ver o espetáculo e se apaixona, mas um amigo vai ver e não gosta, não entrosou, não comungou, entendeu? Não deveria haver uma luta para conquistar a plateia, mas provocar fascínio e buscar uma comunhão.


O que significa esse ofício de atriz?

– É como se fosse um ato religioso: você entra no teatro e espera começar. Já estão todos sentados? Já está na hora? Aí, faz-se alguma coisa: toca-se uma campainha, uma luz muda, os atores entram mesmo com a luz... Ou seja, tem um início. Aí você fica diante de um ser humano. É como uma missa. O que é o padre? Um ator. Ele está ali paramentado, num cerimonial religioso. Se é Páscoa, é uma cor, se é Semana Santa ou Natal, são outras cores. Se fala um texto, não deixa de ser um auto medieval, e as pessoas ficam ali. Acho que, no fundo, tudo na vida é um teatro. Já falava o Velho Bardo [William Shakespeare]: para cada pessoa, você se apresenta, mesmo que um pouquinho, de maneira diferente. Às vezes até a cada hora do dia, até para você mesmo. Quem é a gente?

                                                  (Adaptado de: Revistae, São Paulo, Sesc, jul. 2018.) 

Tem sempre alguma coisa [que muda] porque é tudo muito sutil, embora você faça sempre o “mesmo” gestual.


Uma redação alternativa para a frase acima, em que se mantêm a correção e, em linhas gerais, o sentido original, encontra-se em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    → Tem sempre alguma coisa [que muda] porque é tudo muito sutil, embora você faça sempre o “mesmo” gestual. → procuramos coerência e nenhum erro e também um valor causal (conjunção subordinativa causal "porque", equivale a "já que") e um valor concessivo (conjunção subordinativa concessiva "embora").

    A) Se acaso você faz sempre o “mesmo” gestual, sempre há algo que altera como é tudo muito sutil. → temos uma conjunção subordinativa condicional, não é isso que queremos.

    B) Uma vez que é tudo muito sutil, sempre tem alguma coisa que altera, por mais que você faz o mesmo gestual sempre. → temos uma conjunção subordinativa causal "uma vez que", porém o correto seria: por mais que você FAÇA.

    C) Na medida em que alguma coisa sempre muda, tudo é muito sutil, de modo a que você faça sempre um gestual semelhante. → "na medida em que" (locução conjuntiva subordinativa causal), não temos um valor concessivo; "de modo que" seria o correto, nada exige a preposição "a", além disso é uma conjunção coordenativa conclusiva e não é esse valor que queremos.

    D) Há sempre alguma coisa que muda mesmo sendo tudo muito sutil, e você faça sempre o “mesmo” gestual. → não temos nenhum dos valores que procuramos, além disso o sentido está completamente alterado.

    E) Ainda que você faça sempre um gestual semelhante, como tudo é muito sutil, há sempre algo que muda. → temos a nossa resposta, respectivamente: conjunção subordinativa concessiva e causal.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • A QUESTÃO, IMPLICITAMENTE, ESTÁ PEDINDO PARA QUE ENCONTREMOS, NAS ALTERNATIVAS, UMA CONJUNÇÃO QUE TENHA O MESMO SENTIDO DA QUE ESTÁ NA FRASE.

    "Tem sempre alguma coisa [que muda] porque é tudo muito sutil, embora você faça sempre o "mesmo" gestual.

    EMBORA = CONJUNÇÃO SUBORDINADA CONCESSIVA.

    A) SE acaso... SE = CONJUNÇÃO CONDICIONAL.

    B) UMA VEZ QUE é tudo muito... UMA VEZ QUE = CONJUNÇÃO CAUSAL.

    C) NA MEDIDA EM QUE alguma coisa.. NA MEDIDA EM QUE = CONJUNÇÃO CAUSAL.

    D) Há sempre alguma coisa [...], E você faça sempre o "mesmo" gestual. E = CONJUNÇÃO ADITIVA.

    E) AINDA QUE você faça... AINDA QUE = CONJUNÇÃO CONCESSIVA.

    ALTERNATIVA E.

  • O fato de haver aspas na palavra MESMO é o que possibilita o emprego do vocábulo SEMELHANTE? Porque ser semelhante não é ser o mesmo. Foi o que me fez descartar a alternativa E. buguei com essa questão.

  • Embora = concessivo

    Ainda que = concessivo