Segundo a lenda de São Miguel: “Era verão, dizem os mais antigos moradores de Maracanã. O mês era setembro de 1755. À noite saíram para pescar dois nativos da tribo dos Maracanãs. Iam lançando sua tarrafa nos beirateuas em frente ao sítio "São Tomé", abaixo do rio Caripi. Numa tarrafada o proeiro sentiu que aquele instrumento de pesca engatou dentro da maré. O piloto mergulhou dentro da pausada, desengatou a tarrafa e voltou à tona com uma mensagem: -Tem um negócio esquisito rés à chumbada. Tá agarrado na malha! O proeiro puxou a tarrafa pra dentro do casco, acendeu a lamparina e verificou que era uma imagem de santo. Todos eram devotos de santos populares e, na tribo dos Maracanãs já existiam: Santo Antonio Português, Nossa Senhora da Ajuda, São Francisco Xavier, confeccionados pelo índio Martinho que aprendeu a esculpir as imagens de madeira com ajuda dos missionários Jesuítas.
Os dois pescadores interromperam a pescaria e foram avisar os moradores da localidade sobre o achado. Quando amanheceu era voz corrente de que a imagem de São Miguel Arcanjo tinha sido milagrosamente encontrada defronte do "São Tomé". Foi então providenciado um oratório, juntaram-se os moradores em procissão, rezas, promessas, oferendas e ladainhas. Decorridos alguns dias a tosca imagem desapareceu inesclarecidamente da capela. Diziam alguns que aquilo era coisa de pessoas impenitentes, sacrílegas.
Ocorre que a imagem reapareceu ao tronco de uma frondosa árvore nas ribanceiras do lugar "São Tomé", o que motivou uma corrente de opinião a sugerir que o futuro da freguesia fosse mudado de local, para o alto do sítio "São Tomé".
Convencidos os paroquianos de que a imagem deveria permanecer em seu nicho na capela-mor, foram então colocadas fechaduras nas portas, e a comunidade mantera-se de vigília com missas até o penúltimo dia do mês, data consagrada ao santo maracanaense. Os canoeiros e pescadores organizaram uma regata na baía do rio Maracanã, saindo próximo do local de onde a imagem foi achada, percorrendo a baía agitada pelos ventos de setembro. A regata continua como tradição da festividade de São Miguel Arcanjo, com dezenas de veleiros numa verdadeira maratona marítima a bordejar o rio que banha a cidade. A Igreja em homenagem ao santo padroeiro é uma das mais antigas do Pará, verdadeiro monumento de arte pura. O achado de São Miguel deu ensejo à categoria de vila, tendo o Governador da Província do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, lhe concedido foros de Vila de São Miguel de Cintra” (PAIXÃO,2007).
FONTE: http://www.setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/maracana_2007_c.pdf
Pág. 36, 37.