SóProvas


ID
3114085
Banca
FCC
Órgão
SANASA Campinas
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      De cedo, aprendi a subir ladeira e a pegar bonde andando. Posso dizer, com humildade orgulhosa, que tive morros e bondes no meu tempo de menino.

      Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada. Que tinha esse nome a propósito: lá pelos altos do Jaguaré, quando fazia muito frio, no morro costumava gear. Tínhamos um par de sapatos para o domingo. Só. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão.

      Não há lembrança que me chegue sem os gostos. Será difícil esquecer, lá no morro, o gosto de fel de chá para os rins, chá de carqueja empurrado goela abaixo pelas mãos de minha bisavó Júlia. Havia pobreza, marcada. Mas se o chá de carqueja me descia brabo pela goela, como me é difícil esquecer o gosto bom do leite quente na caneca esmaltada estirada, amorosamente, também no morro da Geada, pelas mãos de minha avó Nair.

      A miséria não substituíra a pobreza. E lá no morro da Geada, além do futebol e do jogo de malha, a gente criava de um tudo. Havia galinha, cabrito, porco, marreco, passarinho, e a natureza criava rolinha, corruíra, papa-capim, andorinha, quanto. Tudo ali nos Jaguarés, no morro da Geada, sem água encanada, com luz só recente, sem televisão, sem aparelho de som e sem inflação.

      Nenhum de nós sabia dizer a palavra solidariedade. Mas, na casa do tio Otacílio, criavam-se até filhos dos outros, e estou certo que o nosso coração era simples, espichado e melhor. Não desandávamos a reclamar da vida, não nos hostilizávamos feito possessos, tocávamos a pé pra baixo e pra cima e, quando um se encontrava com o outro, a gente não dizia: “Oi!”. A gente se saudava, largo e profundo: − Ô, batuta*!

*batuta: amigo, camarada.

(Texto adaptado. João Antônio. Meus tempos de menino. In: WERNEK, Humberto (org.). Boa companhia: crônicas. São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 141-143) 

Da leitura do trecho Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada (2° parágrafo), subentende-se que o morro da Geada

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? Se recorrermos ao texto, podemos achar uma outa opção, mas a questão pede que analisemos somente o trecho proposto:

    ? Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada [...]

    ? Temos a conjunção comparativa "como" marcando a ideia de que o morro da Geada passou da condição de morro pobre para um morro com miséria, logo a melhor resposta para a questão é a letra "c".

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  • A questão requer interpretação textual em que, a partir da informação apresentada, podemos chegar a uma conclusão. Geralmente, os comandos do enunciado são:


    . Depreende-se / infere-se / conclui-se do texto que...

    . É correto afirmar que...

    . É possível subentender a partir do texto que...

    . O texto permite deduzir que...

    . Qual a intenção do autor quando afirma que...


    Alternativa (A) incorreta - O texto não deixa pistas de que o morro da Geada era habitado por trabalhadores.


    Alternativa (B) incorreta - O narrador, ao fazer a comparação do morro em que vivera na época de sua infância com o morro da Geada, dá-nos indícios de que o morro da Geada já vivia uma situação miserável, ou seja, uma situação além da pobreza; então, não escapou da chegada da miséria.


    Alternativa (C) correta - Há no trecho do segundo parágrafo o advérbio de tempo “ainda" o qual é um pressuposto de que um dia o morro era apenas pobre, mas que depois (e foi no momento após a infância do narrador) passou a condição de miserável.


    Alternativa (D) incorreta - O texto não traz informações de que os moradores eram pobres por opção, o que se subentende é que a pobreza era uma condição, e não uma opção.


    Alternativa (E) incorreta - Óbvio que se tinha consciência da condição miserável. Isso é perceptível quando o narrador afirma sobre a substituição da pobreza pela miséria, há uma consciência da mudança das condições.


    Gabarito da professora: alternativa C.