SóProvas


ID
3114295
Banca
FCC
Órgão
SANASA Campinas
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.


    De cedo, aprendi a subir ladeira e a pegar bonde andando. Posso dizer, com humildade orgulhosa, que tive morros e bondes no meu tempo de menino.

    Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada. Que tinha esse nome a propósito: lá pelos altos do Jaguaré, quando fazia muito frio, no morro costumava gear. Tínhamos um par de sapatos para o domingo. Só. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão.

    Não há lembrança que me chegue sem os gostos. Será difícil esquecer, lá no morro, o gosto de fel de chá para os rins, chá de carqueja empurrado goela abaixo pelas mãos de minha bisavó Júlia. Havia pobreza, marcada. Mas se o chá de carqueja me descia brabo pela goela, como me é difícil esquecer o gosto bom do leite quente na caneca esmaltada estirada, amorosamente, também no morro da Geada, pelas mãos de minha avó Nair.

    A miséria não substituíra a pobreza. E lá no morro da Geada, além do futebol e do jogo de malha, a gente criava de um tudo. Havia galinha, cabrito, porco, marreco, passarinho, e a natureza criava rolinha, corruíra, papa-capim, andorinha, quanto. Tudo ali nos Jaguarés, no morro da Geada, sem água encanada, com luz só recente, sem televisão, sem aparelho de som e sem inflação.

   Nenhum de nós sabia dizer a palavra solidariedade. Mas, na casa do tio Otacílio, criavam-se até filhos dos outros, e estou certo que o nosso coração era simples, espichado e melhor. Não desandávamos a reclamar da vida, não nos hostilizávamos feito possessos, tocávamos a pé pra baixo e pra cima e, quando um se encontrava com o outro, a gente não dizia: “Oi!”. A gente se saudava, largo e profundo: − Ô, batuta*!

 *batuta: amigo, camarada.

(Texto adaptado. João Antônio. Meus tempos de menino. In: WERNEK, Humberto (org.). Boa companhia: crônicas. São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 141-143) 

Da leitura do trecho Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada (2° parágrafo), subentende-se que o morro da Geada

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? Se recorrermos ao texto, podemos achar uma outa opção, mas a questão pede que analisemos somente o trecho proposto:

    ? Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada [...]

    ? Temos a conjunção comparativa "como" marcando a ideia de que o morro da Geada passou da condição de morro pobre para um morro com miséria, logo a melhor resposta para a questão é a letra "c".

    ? Planejamento Completo nos estudos grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost2

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! Hoje você acha cansativo, mas mais tarde receberá a recompensa por todo esse tempo que passou estudando.

  • Acertei mais por eliminação, mas segundo o texto o morro da geada é miserável, o que condiz com a alternativa "C"

  • Não consegui chegar nessa resposta proposta pela banca, as vezes fica difícil chegar no entendimento de interpretação da FCC!

  • Não entendi a dificuldade nessa questão, o "fora" implica algo acontecido antes de um evento pretérito, no caso, "não fora substituída pela miséria" significa que no futuro desse marco temporal, haveria de ser tomada pela miséria.

    Ou estaria eu enganado?

  • Fui pelo o raciocínio e a condução da questão.

    ...subentende-se que o morro da Geada... passou de pobre a miserável em algum momento depois da infância do autor.