SóProvas


ID
3118972
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Itapemirim - ES
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eu, Mwanito, o afinador de silêncios

(Excerto)

A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que poderemos brilhar. Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.

— Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.

Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego. Depois, ele inspirava fundo e dizia:

— Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.

Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim, era um dom natural, herança de algum antepassado. Talvez fosse legado de minha mãe, Dona Dordalma, quem podia ter a certeza? De tão calada, ela deixara de existir e nem se notara que já não vivia entre nós, os vigentes viventes.

— Você sabe, filho: há a calmaria dos cemitérios. Mas o sossego desta varanda é diferente .

Meu pai. A voz dele era tão discreta que parecia apenas uma outra variedade de silêncio. Tossicava e a tosse rouca dele, essa, era uma oculta fala, sem palavras nem gramática.

Mia Couto, excerto do capítulo "Eu, Mwanito, o afinador de silêncios" | Livro Um - Humanidade, no livro "Antes de Nascer o Mundo", (romance). São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009,

Neste belíssimo trecho do livro “Antes de nascer o mundo”, Mia Couto aproxima-nos, de modo muito poético e original, de uma atmosfera bem particular. A afirmativa que sintetiza a temática abordada no texto é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? O dom de ouvir os silêncios é de poucos, e, para conquistar essa sabedoria, normalmente, exigem-se muita prática e sensibilidade.

    ? Essa ideia está presente em todo texto, parte por parte: Minha única vocação é o silêncio (várias pessoas tem dons, mas o do silêncio é para poucos, e é um dom de Mwanito);

    ? Com esta ideia encontramos o quanto o silêncio era praticado, pois era exercido toda noite, logo inferimos que é algo que demanda prática e além disso sensibilidade para compreender a verdadeira essência do ato de se silenciar: Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • parece que alguém sob o efeito de cannabis escreveu isso kkkkkkkkk

  • → Essa ideia está presente em todo texto, parte por parte: Minha única vocação é o silêncio (várias pessoas tem dons, mas o do silêncio é para poucos, e é um dom de Mwanito); errei mas, esse final de ser um dom de mwanito me confundi-o.

  • b) ausência da mãe era sentida pelo filho que não se acostumava com o silêncio imposto pelo pai.

    Em nenhuma parte fala que o filho não se acostumava, pelo contrário, ele também gostava do silêncio.

    c) O pai do narrador amava o silêncio porque não sabia ler e não tinha mais a esposa, sentindo-se só na companhia do único filho.

    O texto não não fala que ele não sabe ler, nem que ele se sente só.

    d) A família á qual pertence o narrador tinha a tradição de pouco falar e de muito ouvir, uma prática que levaram anos para desenvolver.

    O texto não fala que levaram anos para desenvolver a prática, ele fala que ele já nasceu com esse dom.

    e)O narrador é um “afinador de silêncios", um ofício raro, para isso levou muito tempo praticando com o pai até conquistar a rendosa profissão.

    Texto não fala em profissão, nem que levou tempo praticando.

    Sobra a letra A

  • Bacana, mas de onde saiu a sensibilidade?

  • Nâo vejo como a A possa estar correta. O texto diz que o guri já nasceu com esse "dom" de ficar calado. Então, não se pode dizer q exige mta prática.

  • Essa questão é cabível de recurso.

    O texto em nenhum momento faz referência a sensibilidade como requisito para se "escutar" o silêncio.