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ID
3124027
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder a questão, considere o texto abaixo. 

Nisto entrou o moleque trazendo o relógio com o vidro novo. Era tempo; já me custava estar ali; dei uma moedinha de prata ao moleque; disse a Marcela que voltaria noutra ocasião, e saí a passo largo. Para dizer tudo, devo confessar que o coração me batia um pouco; mas era uma espécie de dobre de finados. O espírito ia travado de impressões opostas. Notem que aquele dia amanhecera alegre para mim. Meu pai, ao almoço, repetiu-me, por antecipação, o primeiro discurso que eu tinha de proferir na Câmara dos Deputados; rimo-nos muito, e o sol também, que estava brilhante, como nos mais belos dias do mundo; do mesmo modo que Virgília devia rir, quando eu lhe contasse as nossas fantasias do almoço. Vai senão quando, cai-me o vidro do relógio; entro na primeira loja que me fica à mão; e eis me surge o passado, ei-lo que me lacera e beija; ei-lo que me interroga, com um rosto cortado de saudades e bexigas... 
Lá o deixei; meti-me às pressas na sege, que me esperava no Largo de S. Francisco de Paula, e ordenei ao boleeiro que rodasse pelas ruas fora. O boleeiro atiçou as bestas, a sege entrou a sacolejar-me, as molas gemiam, as rodas sulcavam rapidamente a lama que deixara a chuva recente, e tudo isso me parecia estar parado. Não há, às vezes, um certo vento morno, não forte nem áspero, mas abafadiço, que nos não leva o chapéu da cabeça, nem rodomoinha nas saias das mulheres, e todavia é ou parece ser pior do que se fizesse uma e outra coisa, porque abate, afrouxa, e como que dissolve os espíritos? Pois eu tinha esse vento comigo; e, certo de que ele me soprava por achar-me naquela espécie de garganta entre o passado e o presente, almejava por sair à planície do futuro. O pior é que a sege não andava.
− João, bradei eu ao boleeiro. Esta sege anda ou não anda?
− Uê! nhonhô! Já estamos parados na porta de sinhô conselheiro. 

(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p. 135-136) 

No texto, o narrador dirige-se diretamente aos seus leitores em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? O espírito ia travado de impressões opostas. Notem que aquele dia amanhecera alegre para mim. (1o parágrafo)

    ? Observa-se que o verbo em destaque está conjugado na terceira pessoa do plural do imperativo afirmativo (notem vocês); indica que o narrador está direcionando seu discurso ao leitor.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • NOTEM (VOCÊS LEITORES)

  • B

     "Para (eu) dizer tudo, devo confessar (a vocês) que o coração me batia um pouco; mas era uma espécie de dobre de finados. O espírito ia travado de impressões opostas. Notem (vocês) que aquele dia amanhecera alegre para mim."

    OBS: Para a literatura:

    Machado é conhecido por ser narrador onisciente, narrador intruso, conhece seus personagens e seus pensamentos e emoções, e quando o foco narrativo é na primeira pessoa, o autor revela seus pensamentos e seu fluxo de consciência.

    O narrador assume a função de intruso, não se limitando a narrar a história e acaba fazendo críticas aos personagens e atribuindo juízo de valor à suas ações. Como o narrador não faz parte diretamente do enredo, ele é livre para atribuir julgamentos, posiciona-se contra ou a favor de determinadas ações e emite sua opinião a respeito.

  • Gab. B

    >3º pessoa do plural do imperativo afirmativo

    O espírito ia travado de impressões opostas. Notem(VOCÊS) que aquele dia amanhecera alegre para mim.

  • "notem" : uma ordem ao leitor.

    Rumo à Gloriosa PMCE!