Leia trecho de entrevista com o escritor moçambicano Mia
Couto e responda a questão:
Revista Nova Escola: Em algum momento, a escola
seduziu você?
Mia Couto: Eu sempre conto essa mesma história. Foi de
um professor que não deu uma aula, e sim uma lição – que é
uma coisa diferente. Ele nos mandou fazer uma redação que
seria apresentada à turma. No dia seguinte, ele trouxe um
caderno e sentou-se em uma das nossas cadeiras. Ele era
um homem enorme, muito grande. Ficou ali todo desajeitado.
Converteu-se num menino, como nós, numa criança – e com
as mãos tremendo, leu a redação que tinha feito em casa, à
noite, como se fosse um de nós. O texto dele chamava-se As
mãos da minha mãe. E as mãos da mãe dele também eram
as mãos da minha mãe: ele falava de mãos marcadas pelo
trabalho, pelo sofrimento, pela vida e de como ele gostava
daquelas mãos marcadas. Eu tinha talvez uns 9 ou 10 anos,
mas nunca me esqueci disso. Esse foi o momento em que eu
pensei que a escola fazia algum sentido.
NE: Como esse episódio se reflete na sua carreira
como escritor?
Couto: Aquilo deixou uma grande impressão por duas
razões: a primeira é que percebi que o que eu via como um
texto obrigatório era sem sabor nenhum. Simplesmente porque tinha que estar atento à ortografia e normas da gramática. Eu notei que o prazer que tinha ao escrever uma história
é o de viver no texto o que está dentro do nosso peito. A
segunda razão é que aquele professor, de repente desamparado na cadeira, transformou-se num colega meu. Não é
só uma questão curricular, uma questão de programa. É uma
questão de atitude do professor.
(Wellington Soares. “Mia Couto: ‘O professor tem que ser um contador de
histórias’”. https://novaescola.org.br, 10.04.2018. Adaptado)
Segundo informações presentes no texto, para Mia Couto