SóProvas


ID
3138745
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itapevi - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            “Tire suas próprias conclusões”


      Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra daquilo que antes foi veiculado em partes.

      É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depender de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta também aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.

      Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras, por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.

      Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a desconfiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda não nomeado. Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E, finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?

      Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mundo. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa. Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao compartilhar aquilo que não escrevemos.

      É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da linguagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.

(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)

No sexto parágrafo, o verbo pensar em “Pensamos estar pensando...” veicula, em cada ocorrência respectivamente, sentidos que equivalem a

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    Primeiramente, texto indispensável para leitura, lendo fica fácil responder a questão:

    >>> Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao compartilhar aquilo que não escrevemos.

    >>> somente supomos que estamos pensando, assim uma "falsa" ideia de que o pensamento é livre é concebida, mas somente reproduzimos opiniões prontas nas redes sociais.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Aqui temos uma questão que versa sobre noções de interpretação de texto, mas o faz de uma maneira bastante interessante, aliando as habilidades interpretativas em si do candidato e os conhecimentos que ele possui acerca dos efeitos de sentido de determinadas palavras. Para isto, é necessário saber o que são sinônimos, bem como ficar muito atento ao contexto de produção do texto associado.

     

    Dito isto, vamos à resolução.

     

    O enunciado nos diz o seguinte:

     

    No sexto parágrafo, o verbo pensar em “Pensamos estar pensando..." veicula, em cada ocorrência respectivamente, sentidos que equivalem a

     

    Analisando as alternativas temos:



    A) rememorar e corroborar uma opinião. Incorreta. Pensar não é sinônimo de rememorar e isto basta para eliminarmos esta alternativa.



    B) refutar uma ideia e elucubrar. Incorreta. Pensar não é sinônimo de refutar (rechaçar, rejeitar).



    C) induzir a erro e suscitar uma impressão. Incorreta. Aqui, o contexto permite que descartemos esta alternativa, pois o parágrafo em que se encontra o trecho do texto destacado pelo enunciado não fala em induzir a erro.



    D) fantasiar e agir com intransigência. Incorreta. Pensar pode até ser sinônimo de fantasiar (como na frase Ele pensa que é o Superman), mas agir com intransigência não se encaixa na noção de pensamos estar pensando.



    E) supor e conceber uma ideia. Correta. No contexto, pensar é sinônimo de supor e a ideia de pensamos estar pensando está relacionada ao ato de conceber ideias.


     

    Gabarito do Professor: Letra E.