SóProvas


ID
3138748
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itapevi - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            “Tire suas próprias conclusões”


      Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra daquilo que antes foi veiculado em partes.

      É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depender de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta também aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.

      Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras, por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.

      Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a desconfiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda não nomeado. Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E, finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?

      Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mundo. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa. Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao compartilhar aquilo que não escrevemos.

      É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da linguagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.

(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)

Da menção ao conflito descrito por Clarice Lispector, no último parágrafo, deduz-se o seguinte:

Alternativas
Comentários
  • Blz Tiago, Cara na questão Q547871 creio que o artigo que vc postou está incorreto, eu deixei na questão o artigo correto dá uma olhada para vê se concorda. Grande abraço bons estudos
  • Blz Wborges.. Retifiquei lá. Muito parecido a lei que eu tinha mencionado anteriormente. Mas obrigado pela retificação. Grande abraço e bons estudos!!
  • Assertiva D

    “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que digo”

  • Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao compartilhar aquilo que não escrevemos.

    ITEM D.

  • MARQUEI A (D) E MUDEI PRA (E)

  • é um texto bem complexo tem que ter uma paciência e cautela o detalhe ficou aqui :  “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que digo”

    é um contraditório . porisso o  pensar e dizer não se equivale.

  • A frase é equivalente a famosa frase: Só sei que nada sei.

  • É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da linguagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.

    O entendimento é seguinte: ao compartilhar mensagens nas redes achamos que estamos pensando ao comentar determinado assunto, mas estamos somente terceirizando o que um terceiro disse e acreditamos que estamos pensando, entretanto, isso é apenas tido como compartilhamento pela autora.

  • Gabarito (d).

    Questão pesada.