SóProvas


ID
3163126
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto II: A língua

      Quando imagino o terror dos africanos a bordo de navios negreiros, nos palanques dos leilões, habitando a arquitetura insólita das fazendas de monocultura, considero que esse terror ia além do medo da punição e residia também na angústia de ouvir uma língua que não compreendiam. O próprio som do inglês devia aterrorizá-los. Penso nos negros encontrando uns aos outros num espaço distante das diversas culturas e línguas que os distinguiam uns dos outros obrigados pelas circunstâncias a achar maneiras de falar entre si num “mundo novo” onde a negritude ou a cor escura da pele, e não a língua, se tornariam o espaço da formação de laços. Como lembrar, como evocar esse terror? Como descrever o que devem ter sentido os africanos cujos laços mais profundos haviam sido sempre forjados no espaço de uma língua comum, mas foram transportados abruptamente para um mundo onde o próprio som de sua língua materna não tinha sentido?

     Imagino-os ouvindo o inglês falado como a língua do opressor, mas também os imagino percebendo que essa língua teria de ser adquirida, tomada, reclamada como espaço de resistência. Imagino que foi feliz o momento em que perceberam que a língua do opressor confiscada e falada pela língua dos colonizados, poderá ser espaço de formação de laços. Nesse reconhecimento residia a compreensão de que a intimidade poderia ser recuperada, de que poderia ser formada uma cultura de resistência que possibilitaria o resgate do trauma da escravização. Imagino, portanto, os africanos ouvindo o inglês pela primeira vez como “a língua do opressor” e depois ouvindo-o outra vez como foco potencial de resistência. Aprender o inglês, aprender a falar a língua estrangeira, foi um modo pelo qual os africanos escravizados começaram a recuperar seu poder pessoal dentro de um contexto de dominação. De posse de uma língua comum, os negros puderam encontrar de novo um modo para construir a comunidade e um meio para criar a solidariedade política necessária para resistir.

bell hooks

Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Trad. de

Marcelo B. Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 2013

Com base na discussão da autora, pode-se inferir um papel das línguas vinculado ao seguinte aspecto:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? A língua é responsável pela construção do processo de sociabilidade; ela é que distingue classes e marcou a separação dos negros; é responsável, também, pelo processo de resistência de uma parcela da sociedade, no caso do texto, os negros, exercendo um papel de oprimidos.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • A língua transformou a forma como se relacionavam com aquela sociedade desconhecida.

  • A linguagem, segundo o texto, foi usada para permitir a socialização com fins de entendimento da situação e para posterior criação de possibilidades de resistência por parte dos negros. Uma vez que negros de diversas etinias foram postos em convivência comum, a aquisição da língua dos escravocratas tornou-se elemento de união entre os escravos.

    Gabarito: letra a.

  • Gabarito: A

    "O próprio som do inglês devia aterrorizá-los. Penso nos negros encontrando uns aos outros num espaço distante das diversas culturas e línguas que os distinguiam uns dos outros obrigados pelas circunstâncias a achar maneiras de falar entre si num “mundo novo” onde a negritude ou a cor escura da pele, e não a língua, se tornariam o espaço da formação de laços."

  • a lingua no inicio apenas tinha sentido de opressão, mas depois de resistência.

    letra A.

  • O texto claramente mostra que os negros teriam que dar início a uma nova maneira de viver em sociedade.

  • (*B*) ato praticado com desvio de finalidade, considerando que o projeto de urbanização, em verdade, tinha por objetivo o incremento de liquidez dos imóveis pertencentes ao prefeito.

  • GABARITO; A

    Os negros estavam como que nu beco sem saída e teve que aprender ou adquirir um novo idioma a língua do opressor. isso lhes serviu de oportunidade de desenvolver uma forma de defesa. Consequentemente, a educação lhes serviu como prática da liberdade.