“A gênese do homem branco nas mitologias indígenas difere
em geral da gênese de outros ‘estrangeiros’ ou inimigos porque introduz, além da simples alteridade, o tema da desigualdade no poder e na tecnologia. O homem branco é muitas
vezes, no mito, um mutante indígena, alguém que surgiu do
grupo. Frequentemente também, a desigualdade tecnológica,
o monopólio dos machados, espingardas e objetos manufaturados em geral, que foi dado aos brancos, deriva, no mito, de
uma escolha que foi dada aos índios. Eles poderiam ter escolhido ou se apropriado desses recursos, mas fizeram uma
escolha equivocada. Os Krahô e os Canela, por exemplo,
quando lhes foi dada a opção, preferiram o arco e a cuia à
espingarda e ao prato. Os exemplos dessa mitologia são legião: lembro apenas, além dos já citados, os Waurá que não
conseguem manejar a espingarda que lhes é oferecida em
primeiro lugar pelo Sol, os Tupinambá setecentistas do
Maranhão cujos antepassados teriam escolhido a espada de
madeira em vez da espada de ferro. Para os Kawahiwa, os
brancos são os que aceitaram se banhar na panela fervente
de Bahira: permaneceram índios os que recusaram. O tema
recorrente que saliento é que a opção, no mito, foi oferecida aos
índios, que não são vítimas de uma fatalidade, mas agentes de
seu destino. Talvez escolheram mal. Mas fica salva a dignidade de terem moldado a própria história”.
CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos Índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras: FAPESP/SMC, 1992.
Ao entregar esse fragmento de texto a educandos do 7º ano,
o professor deve ter por objetivo: