Texto para a questão
Vindos do norte, da fronteira velha-de-guerra, bem montados, bem
enroupados, bem apessoados, chegaram uns oito homens, que de longe se via
que eram valentões: primeiro surgiu um, dianteiro, escoteiro, que percorreu,
de ponta a ponta, o povoado, pedindo água à porta de uma casa, pedindo
pousada em outra, espiando muito para tudo e fazendo pergunta e pergunta;
depois, então, apareceram os outros, equipados com um despropósito de
armas – carabinas, novinhas quase; garruchas, de um e de dois canos;
revólveres de boas marcas; facas, punhais, quicés de cabos esculpidos;
porretes e facões, – e transportando um excesso de breves nos pescoços.
O bando desfilou em formação espaçada, o chefe no meio. E o chefe – o
mais forte e o mais alto de todos, com um lenço azul enrolado no chapéu de
couro, com dentes brancos limados em acume, de olhar dominador e tosse
rosnada, mas sorriso bonito e mansinho de moça – era o homem mais
afamado dos dois sertões do rio: célebre do Jequitinhonha à Serra das Araras,
da beira do Jequitaí à barra do Verde Grande, do Rio Gavião até nos Montes
Claros, de Carinhanha até Paracatu; maior do que Antônio Dó ou Indalécio; o
arranca-toco, o treme-terra, o come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-treta, o
tira-prosa, o parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e-arrasa: Seu Joãozinho
Bem-Bem.
João Guimarães Rosa, “A hora e vez de Augusto Matraga”, in Sagarana.
O tipo de valentão armado, figurado no texto de Guimarães Rosa,
atuando isoladamente ou em grupo, é personagem frequente na ficção
brasileira – literária, cinematográfica etc. Corresponde também a esse
tipo a personagem