Leia o excerto da obra de Joaquim Norberto de Souza Silva, publicado em 1873, no qual a figura de Tiradentes é reconstruída.
Era ele de estatura alta, de espáduas bem desenvolvidas, como os naturais da Capitania de Minas Gerais. A sua fisionomia nada tinha de simpática e antes se tornava notável pelo que quer que fosse de repelente, devido em grande parte ao seu olhar espantado. Possuía, porém, o dom da palavra e expressava-se as mais das vezes, com entusiasmo; mas sem elegância nem atrativo, resultado de sua educação pouco esmerada; ouvindo-o porém na rudeza de sua conversação, gostava-se de sua franqueza selvagem, algumas vezes por demais brusca e que quase sempre desandava em leviandade, de sorte que uns lhe davam o característico de herói e outros o de doido. Tornava-se, assim, objeto de público gracejo, provocando o riso e, não poucas vezes, as vaias apupadas do público. Não tinha instrução alguma além da ordinária, todavia era de fácil e intuitiva compreensão. A sua prenda, como então se dizia, de pôr e tirar dentes, até desinteressadamente, graças à bondade de seu coração, que não condizia com a impetuosidade de seu gênio, lhe facilitava o contato com inúmeras pessoas e famílias.
[Apud João Pinto Furtado, Imaginando a nação: o ensino da história da
Inconfidência Mineira na perspectiva da crítica historiográfica.
Em: Lana M. de C. Simam e Thais N. de L. Fonseca (orgs.).
Inaugurando a História e construindo a nação.
Discursos e imagens no ensino de História]
Nessa reconstrução, Tiradentes