- ID
- 3236113
- Banca
- IBADE
- Órgão
- Prefeitura de Aracruz - ES
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto 1
CUIDEM DOS GAROTOS
O problema de Bruno está resolvido. Rapidamente, mas não poderia se diferente: raras
vezes um comportamento criminoso é identificado e
provado em pouco tempo com tanta abundância de
provas, tanta escassez de atenuantes. O ex-goleiro e
ex-ídolo do Flamengo mostrou ser tudo que um atleta
popular não pode ser.
Seus ex-patrões, e não falo só do flamengo, bem
que poderiam fazer um exame de consciência e
perguntar a si mesmos se, antes de matar a
companheira com repugnantes requintes de
violência, Bruno já não teria dado sinais ou mesmo
provas de que alguma coisa estava errada com ele.
Talvez não, mas o que está mesmo em questão é
a possível necessidade de uma política preventiva a
respeito dos jogadores.
Profissionais do futebol não são funcionários
comuns de uma empresa. Ao assinarem contrato com
o clube, passam a ser parte de sua história e de sua
imagem, o que significa tanto compromisso como
honra - e implica responsabilidades especiais, dentro
das quatro linhas e fora delas.
A condição de ídolo popular tem tantas
responsabilidades quanto prazeres. Sei que estou
apenas citando lugares-comuns, o que pode ser
cansativo para o leitor, mas peço um pouco de
paciência: eles só ficam comuns por serem
verdadeiros e resistirem ao tempo.
O Flamengo agiu com rapidez e eficiência, tanto
quanto a polícia, no caso do Bruno, mas o torcedor
tem o direito de perguntar: o que o clube e os outros
estão dispostos a fazer, não para reagir a episódios
semelhantes, mas simplesmente para evitá-los?
É comum, e absolutamente desejável, que
rapazes, muitos ainda adolescentes, mostrem nos
gramados um grau de excelência no exercício da
profissão prematuro e incomum em outras
profissões. As leis da concorrência mandam que
sejam regiamente pagos por isso, mas o sucesso
antes da maturidade tem riscos óbvios. Talvez deva
partir dos clubes, tanto por razões éticas como em
defesa de sua própria imagem, a iniciativa de
preparar suas jovens estrelas para a administração
correta do sucesso. Dá trabalho, com certeza, mas,
em prazo não muito longo, trata-se da defesa de seus
interesses e de seu patrimônio, sem falar no aspecto
ético de uma política nesse sentido.
O caso de Bruno é, obviamente, uma aberração.
Não conheço outro craque assassino, mas não faltam
exemplos de bons jogadores que jogaram fora suas
carreiras e não foram cidadãos exemplares - ou pelo
menos cidadãos comuns - por absoluta
incompetência na administração do êxito. Principalmente porque o sucesso no esporte costuma
chegar muito antes do que acontece com outras
profissões.
Bruno não foi formado no Flamengo. A ele
chegou pronto, para o melhor e para o pior. O que fez
de sua vida não é culpa do clube, mas serve como
advertência para todos os clubes,
Cartolas, cuidem de seu patrimônio, cuidem de
seus garotos.
Luiz Garcia – Cronista do Jornal O Globo
Falecido em abril de 2018
Atese defendida pelo autor é a de que: