SóProvas


ID
3238345
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Presidente Kennedy - ES
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 02

Palavras, palavras, palavras

    Criadas pelos humanos, as palavras são suscetíveis ao tempo, como os humanos. Algumas mudam de significado, outras vão desbotando aos poucos, e há as que morrem na inanição do silêncio. Ninguém mais chama o libertino de bilontra, a amante de traviata ou o inocente de cândido. Depois de soar na boca do povo e iluminar a escrita, bilontra, traviata e cândido foram sepultadas nos dicionários junto as que lá descansavam em paz. Em seus lugares brotam novas, frescas e saltitantes, com significado igual - ou quase. A língua é a mais genuína criação coletiva, feita da contribuição anônima. O agito das palavras traduz as mudanças do mundo - na ciência e tecnologia, na economia e política, nas leis e religiões, no comércio e publicidade, no esporte e comunicação, nos costumes e valores.
[...]
     Faz tempo não ouço a palavra cavalheirismo. Parece que a igualdade de direitos das mulheres botou fora o bebê, a água do banho e a bacia. Lá se foram também delicadeza e cordialidade: louvadas no passado, antes de sumir viraram sinônimo de perda de tempo. Pessoa cordial passou a ser chata, cheia de frescura, pé-no-saco, puxa-saco. Cortesia não morreu, mas mudou: agora quer dizer brinde, boca-livre, promoção! Crimes tem cúmplices, mas é rara a cumplicidade entre casais.
[...]
    Se as palavras morrem ou mudam de sentido, os gestos, intenções e atitudes que designam também morrem ou mudam de sentido. Cabe indagar: que sociedade é essa que sepulta o cavalheirismo, a delicadeza, a cordialidade e a compaixão? Que gente é essa que enterra a honra? Que país é esse que esvazia valores como educação e ética e faz da cortesia um gesto interesseiro? Que confere respeito e perdão aos poderosos e impõe aos destituídos o dever e o sacrifício?
     Criadas pelos homens, palavras são do humano. Intriga sejam justamente as que dizem o mais humano do humano a perderem o sentido ou morrerem. Ou será que estamos perdendo o prazer da convivência? Ah, palavras, palavras, palavras...

ARAÚJO, Alcione. Palavras, palavras, palavras. Estado de Minas, Belo Horizonte, 05 jul. 2010. Caderno Cultura, p. 8. Adaptado.

O texto convida-nos a refletir acerca do sentido das palavras, sobretudo, no contexto social. Explora-se constantemente o sentido da palavra, a figuração de linguagem, a relação semântica dos vocábulos. Entretanto, fenômenos de base morfológica, como os processos de formação das palavras, não são apontados pela autora. Para isso, tomemos como objeto as palavras “PUXA-SACO” e “PÉ-NO-SACO”, utilizadas no texto. Nesse sentido, marque a alternativa que corresponde, respectivamente, ao processo de formação das palavras destacadas:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?PUXA-SA/CO? e ?PÉ-NO-SA/CO?

    ? Ambas palavras são formadas por composição por justaposição (=junção de duas ou mais palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética); puxa-sa/co (verbo "puxar" + substantivo "sa/co" formando uma palavra com um único sentido); pé-no-sa/co (=substantivo "pé" + preposição e artigo "em+o=no" + substantivo "sa/co", forma-se uma palavra com um sentido completo).

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