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ID
324907
Banca
NCE-UFRJ
Órgão
UFRJ
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

CIDADE MARAVILHOSA?

Os camelôs são pais de famílias bem pobres, e, então, merecem nossa simpatia e nosso carinho; logo eles se
multiplicam por 1000. Aqui em frente à minha casa, na Praça General Osório, existe há muito tempo a feira hippie.
Artistas e artesãos expõem ali aos domingos e vendem suas coisas. Uma feira um tanto organizada demais: sempre
os mesmos artistas mostrando coisas quase sempre sem interesse. Sempre achei que deveria haver um canto em que
qualquer artista pudesse vender um quadro; qualquer artista ou mesmo qualquer pessoa, sem alvarás nem licenças.
Enfm, o fato é que a feira funcionava, muita gente comprava coisas – tudo bem. Pois de repente, de um lado e outro,
na Rua Visconde de Pirajá, apareceram barracas atravancando as calçadas, vendendo de tudo - roupas, louças, frutas,
miudezas, brinquedos, objetos usados, ampolas de óleo de bronzear, passarinhos, pipocas, aspirinas, sorvetes, canivetes.
E as praias foram invadidas por 1000 vendedores. Na rua e na areia, uma orgia de cães. Nunca vi tantos cães no Rio, e
presumo que muita gente anda com eles para se defender de assaltantes. O resultado é uma sujeira múltipla, que exige
cuidado do pedestre para não pisar naquelas coisas. E aquelas coisas secam, viram poeira, unem-se a cascas de frutas
podres e dejetos de toda ordem, e restos de peixes da feira das terças, e folhas, e cusparadas, e jornais velhos; uma poeira
dos três reinos da natureza e de todas as servidões humanas.
Ah, se venta um pouco o noroeste, logo ela vai-se elevar, essa poeira, girando no ar, entrar em nosso pulmão
numa lufada de ar quente. Antigamente a gente fugia para a praia, para o mar. Agora há gente demais, a praia está
excessivamente cheia. Está bem, está bem, o mar, o mar é do povo, como a praça é do condor – mas podia haver menos
cães e bolas e pranchas e barcos e camelôs e ratos de praia e assaltantes que trabalham até dentro d’água, com um
canivete na barriga alheia, e sujeitos que carregam caixas de isopor e anunciam sorvetes e quando o inocente cidadão
pede picolé de manga, eis que ele abre a caixa e de lá puxa a arma. Cada dia inventam um golpe novo: a juventude é
muito criativa, e os assaltantes são quase sempre muito jovens.

Rubem Braga

O título do texto – cidade maravilhosa? – tem ao final um ponto de interrogação; com isso, o autor do texto expressa:

Alternativas
Comentários
  • Perceba que o título faz parte do texto, de modo que, para responder a pergunta do examinador é necessário ler o texto. Tentar entender o título de forma isolada poderá nos induzir a erro.

    Bem, percebe-se que no texto o autor fica preocupado com a poeira (saúde) e com os assaltos (segurança) o que justifica a resposta c.

    a) O autor não está preocupado com a opinião do leitor ele está preocupado apenas com sua própria opnião.
    b) Em nenhum momento ele fala que a tendência é piorar ou coisa do tipo.
    d) Ele não fala da belezas da cidade maravilhosa, ele fala da praia sim, mas do fato dela estar muito cheia.
    e) Ele só começa falando sobre os pobres para justificar que não tem nada contra eles.
  • Concordo com o gabarito, porém, creio que a alternativa 'A' também esteja correta visto que o título dá a entender que se trata de uma pergunta dirigida ao leitor afim de verificar a opinião do mesmo, do tipo: você realmente considera uma cidade dessas como sendo uma "cidade maravilhosa"?

    Questão de gabarito ambíguo.
  • A opção (A) nos induz ao erro. Fato. Ponto.
    Mas o título não está nos questionando; arrisco a reformular o titulo a fim de provar a minha tese:

    -Você concorda com a "Cidade Maravilhosa"?
    -Como assim, leitor, Cidade Maravilhosa?

    O que ele faz é perguntar, a fim de estabelecer um elo entre o leitor e seu texto.
     

  • Gabarito: (C)