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ID
324946
Banca
NCE-UFRJ
Órgão
UFRJ
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

CIDADE MARAVILHOSA?

Os camelôs são pais de famílias bem pobres, e, então, merecem nossa simpatia e nosso carinho; logo eles se
multiplicam por 1000. Aqui em frente à minha casa, na Praça General Osório, existe há muito tempo a feira hippie.
Artistas e artesãos expõem ali aos domingos e vendem suas coisas. Uma feira um tanto organizada demais: sempre
os mesmos artistas mostrando coisas quase sempre sem interesse. Sempre achei que deveria haver um canto em que
qualquer artista pudesse vender um quadro; qualquer artista ou mesmo qualquer pessoa, sem alvarás nem licenças.
Enfm, o fato é que a feira funcionava, muita gente comprava coisas – tudo bem. Pois de repente, de um lado e outro,
na Rua Visconde de Pirajá, apareceram barracas atravancando as calçadas, vendendo de tudo - roupas, louças, frutas,
miudezas, brinquedos, objetos usados, ampolas de óleo de bronzear, passarinhos, pipocas, aspirinas, sorvetes, canivetes.
E as praias foram invadidas por 1000 vendedores. Na rua e na areia, uma orgia de cães. Nunca vi tantos cães no Rio, e
presumo que muita gente anda com eles para se defender de assaltantes. O resultado é uma sujeira múltipla, que exige
cuidado do pedestre para não pisar naquelas coisas. E aquelas coisas secam, viram poeira, unem-se a cascas de frutas
podres e dejetos de toda ordem, e restos de peixes da feira das terças, e folhas, e cusparadas, e jornais velhos; uma poeira
dos três reinos da natureza e de todas as servidões humanas.
Ah, se venta um pouco o noroeste, logo ela vai-se elevar, essa poeira, girando no ar, entrar em nosso pulmão
numa lufada de ar quente. Antigamente a gente fugia para a praia, para o mar. Agora há gente demais, a praia está
excessivamente cheia. Está bem, está bem, o mar, o mar é do povo, como a praça é do condor – mas podia haver menos
cães e bolas e pranchas e barcos e camelôs e ratos de praia e assaltantes que trabalham até dentro d’água, com um
canivete na barriga alheia, e sujeitos que carregam caixas de isopor e anunciam sorvetes e quando o inocente cidadão
pede picolé de manga, eis que ele abre a caixa e de lá puxa a arma. Cada dia inventam um golpe novo: a juventude é
muito criativa, e os assaltantes são quase sempre muito jovens.

Rubem Braga

O texto pode ser caracterizado como um(a):

Alternativas
Comentários
  • a) homenagem à cidade em que vive o cronista;
    Tantos adjetivos e expressões negativas expressadas no texto que não tem como considerar uma homenagem
    Alternativa ERRADA

    b) protesto contra a falta de segurança na cidade;
    Na verdade não há um protesto, mas sim uma insatisfação, além do que, o texto comenta a falta de segurança somente no penúltimo período do mesmo, a ideia central não foi a da alternativa.
    Alternativa ERRADA

    c) alerta contra as mudanças demasiadamente repentinas;
    Que mudança repentina ? De uma rua para outra ? A cidade do Rio não mudou de forma repentina e sim de um local para o outro, fora que consta somente no início do texto.
    Alternativa ERRADA

    d) informação aos turistas sobre os perigos da cidade grande;
    Está mais para informar a bagunça que encontra-se a cidade grande do que o perigo.
    Alternativa ERRADA

    e) lamento do cronista sobre valores perdidos da cidade.
    Diversas expressões no passado confirmam esta alternativa seguido de uma reclamação, tais como:

    "Enfm, o fato é que a feira funcionava, muita gente comprava coisas – tudo bem. Pois de repente, de um lado e outro,
    na Rua Visconde de Pirajá, apareceram barracas atravancando as calçadas, vendendo de tudo"

    "Antigamente a gente fugia para a praia, para o mar. Agora há gente demais, a praia está
    excessivamente cheia."

    Alternativa CORRETA.