SóProvas


ID
3291745
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Belém - PA
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                      KLEE, KANDINSKI, MAGRITTE

                                                                                                             Michel Foucault


      Dois princípios reinaram, eu creio, sobre a pintura ocidental, do século quinze até o século vinte. O primeiro afirma a separação entre representação plástica (que implica a semelhança) e referência linguística (que a exclui). Faz-se ver pela semelhança, fala-se através da diferença. De modo que os dois sistemas não podem se cruzar ou fundir. É preciso que haja, de um modo ou de outro, subordinação: ou o texto é regrado pela imagem (como nesses quadros em que são representados um livro, uma inscrição, uma letra, o nome de um personagem), ou a imagem é regrada pelo texto (como nos livros em que o desenho vem completar, como se ele seguisse apenas um caminho mais curto, o que as palavras estão encarregadas de representar). É verdade, só muito raramente essa subordinação permanece estável: pois acontece ao texto de o livro ser apenas um comentário da imagem, e o percurso sucessivo, pelas palavras, de suas formas simultâneas; e acontece ao quadro ser dominado por um texto, do qual ele efetua, plasticamente, todas as significações. Mas pouco importa o sentido da subordinação ou a maneira pela qual ela se prolonga, multiplica e inverte: o essencial é que o signo verbal e a representação visual não são jamais dados de uma vez só. Sempre uma ordem os hierarquiza, indo da forma ao discurso ou do discurso à forma. É esse princípio cuja soberania foi abolida por Klee, ao colocar em destaque, num espaço incerto, reversível, flutuante (ao mesmo tempo tela e folha, toalha e volume, quadriculado do caderno e cadastro da terra, história e mapa), a justaposição das figuras e a sintaxe dos signos. Barcos, casas, gente, são ao mesmo tempo formas reconhecíveis e elementos de escrita. Estão postos, avançam por caminhos ou canais que são também linhas para serem lidas. As árvores das florestas desfilam sobre pautas musicais. E o olhar encontra, como se estivessem perdidas em meio às coisas, palavras que lhe indicam o caminho a seguir, que lhe dão nome à paisagem que está sendo percorrida. E no ponto de junção dessas figuras e desses signos, a flecha que retorna tão frequentemente (a flecha, signo que traz consigo uma semelhança de origem, como se fosse uma onomatopeia gráfica, e figura que formula uma ordem), a flecha indica em que direção o barco está se deslocando, mostra que se trata de um sol se pondo, prescreve a direção que o olhar deve seguir, ou antes a linha segundo a qual é preciso deslocar imaginariamente a figura aqui colocada de um modo provisório e um pouco arbitrário. Não se trata absolutamente aí de um desses caligramas que jogam com o rodízio da subordinação do signo à forma (nuvem das letras e das palavras tomando a figura daquilo de que falam), depois da forma ao signo (figura se anatomizando em elementos alfabéticos): não se trata também dessas colagens ou reproduções que captam a forma recortada das letras em fragmentos de objetos; mas do cruzamento num mesmo tecido do sistema da representação por semelhança e da referência pelos signos. O que supõe que eles se encontrem num espaço completamente diverso do do quadro.

      O segundo princípio que durante muito tempo regeu a pintura coloca a equivalência entre o fato da semelhança e a afirmação de um laço representativo. Basta que uma figura pareça com uma coisa (ou com qualquer outra figura), para que se insira no jogo da pintura um enunciado evidente, banal, mil vezes repetido e entretanto quase sempre silencioso (ele é como um murmúrio infinito, obsidiante, que envolve o silêncio das figuras, o investe, se apodera dele, obriga-o a sair de si próprio, e torna a despejá-lo finalmente no domínio das coisas que se pode nomear): “O que vocês estão vendo, é isto”. Pouco importa, ainda aqui, o sentido em que está colocada a relação de representação, se a pintura é remetida ao visível que a envolve ou se ela cria, sozinha, um invisível que se lhe assemelha. [...]


Adaptado de: FOU-CAULT. M. Klee, Kandinski, Magritte.In: FOUCAULT. M. Isto não é um cachimbo. Tradução de Jorge Coli. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988. Disponível em: https://ayrtonbe-calle.files.wordpress.com/2015/07/foucault-m-isto-nc3a3o-c3a-9-um-cachimbo.pdf.

Em relação ao excerto “[...] não se trata também dessas colagens ou reproduções que captam a forma recortada das letras em fragmentos de objetos; mas do cruzamento num mesmo tecido do sistema da representação por semelhança e da referência pelos signos. O que supõe que eles se encontrem num espaço completamente diverso do do quadro.”, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? O termo ?colagem? é formado a partir do verbo ?colar?, em um processo de derivação sufixal.

    ? Verbo "colar" + acréscimo de um sufixo (=vem após a palavra), derivação sufixal.

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Retira o R do verbo COLAR, fica COLA e acrescenta o SUFIXO, ficando COLAGEM.

  • GABARITO A

    A)O termo “colagem” é formado a partir do verbo “colar”, em um processo de derivação sufixal.CORRETO

    CRESCEU PARA FRENTE É SUFIXAL.

    ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    B)O termo “cruzamento” é formado a partir de um processo de composição, em que se unem as palavras “cruzar” e “mento”.ERRADO

    O ERRO É DIZER QUE É FORMADO POR COMPOSIÇÃO, QUANDO NA VERDADE O CERTO É POR DERIVAÇÃO SUFIXAL.

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------C)“Semelhança” é uma palavra primitiva, isto é, não deriva de nenhuma outra.ERRADO

    DERIVA SIM. É UMA DERIVAÇÃO SUFIXAL.

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    D)Em “completamente”, há um processo de derivação sufixal, em que um advérbio é formado a partir de um adjetivo na forma masculina.

    Foi formado de uma palavra FEMININA.

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    E)O termo “num” é resultado da junção da preposição “no” ao artigo “um”ERRADO

    EM+UM

  • SEMELHANTE -> SEMELHANÇA, DERIVAÇÃO SUFIXAL

  • Por que a letra A nãó é derivação regressiva? O substantivo colagem é derivado do verbo colar

  • Por que a letra A nãó é derivação regressiva? O substantivo colagem é derivado do verbo colar

  • Alguém sabe dizer o erro da alternativa d)?

    "Completamente" deriva de "completo" ou de "completar"?

  • a) O termo “colagem” é formado a partir do verbo “colar”, em um processo de derivação sufixal.

    b) O termo “cruzamento” é formado a partir de um processo de composição, em que se unem as palavras “cruzar” e “mento”. --> Unir as palavras seria justaposição, nesse caso a palavra deveria ser CRUZARmento e não Cruzamento.

    c) “Semelhança” é uma palavra primitiva, isto é, não deriva de nenhuma outra. --> Semelhante

    d) Em “completamente”, há um processo de derivação sufixal, em que um advérbio é formado a partir de um adjetivo na forma masculina. --> Feminina (COMPLETA)

    e) O termo “num” é resultado da junção da preposição “no” ao artigo “um”. --> Em + um

  • Na minha visão, "semelhança" é primitiva sim, e "semelhante" deriva dela. Alguém pode me explicar porque não é assim?

    quanto a letra "a", interpretei que "colagem" é derivada do substantivo "cola", e não do verbo "colar". também não vi nenhuma regra quanto a isso.