Não é qualquer pessoa que comete erros de hipercorreção; paradoxalmente, eles só atacam os falantes que têm certo grau de estudo, preocupados honestamente com o correto uso do idioma. Não deixa de ser uma ironia linguística: eu fico tão ansioso por evitar um erro para o qual fui alertado, que termino aplicando a regra onde não devia aplicar. Por exemplo: na fala popular de algumas regiões do Brasil, as pessoas mais simples trocam o “l” pelo “r”, dizendo “carça”, “sordado”, “marvada” em lugar de calça, soldado e malvada. Imaginemos que eu falasse assim e que me desse conta, num determinado momento, que essa troca é um desvio da norma culta, extremamente prejudicial à minha imagem. Consciente agora do meu erro e dos prejuízos que ele acarreta, passo então a evitá-lo a todo custo, mas com tal empenho que termino exagerando: eu, que dizia corretamente disfarça e armário, passo a dizer “disfalça” e “almário”. No fundo, estou cometendo um erro novo ao tentar evitar um erro velho.
De acordo com o texto, a hipercorreção: