- ID
- 3337384
- Banca
- FUNDEP (Gestão de Concursos)
- Órgão
- IFN-MG
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder à questão.
Quem vigia as fronteiras da normalidade?
Uma menina com os cabelos desgrenhados, vestido
sujo, andando com pesados baldes de barro vermelho no
meio do capim cerrado: – Era uma bruxa! Uma bruxa que
conseguia transformar o barro em corpo humano.
Quando Camille carregava, cambaleante, baldes de
barro para fazer as primeiras esculturas, em Villeneuve,
já ouvia de sua mãe que estava louca. Esta demarcação
das fronteiras da normalidade é usada para limitar quais
são as experiências possíveis para mulheres. A questão
da normalidade (ou de como ela se transforma em
mecanismo do poder) não é puramente teórica: é parte da
nossa experiência.
Aliás, seria mais adequado falar de normalidades e não de
normalidade. Normalidade não é uma categoria estável.
Depende de critérios sociais, culturais, ideológicos e
até religiosos arbitrários. Já foi considerado normal
ver duas pessoas lutando até a morte como forma de
entretenimento, escravizar populações inteiras, trancar
mulheres para o resto da vida em manicômios para tentar
normalizá-las. A relação normalidade/loucura é um dos
instrumentos divisores do poder. Funciona sob o princípio
da porta giratória, que trava de acordo com um comando
arbitrário e estabelece demarcações dicotômicas: normais
e loucos, pessoas de bem e bandidos, sadio e doente.
O sujeito é dividido no seu interior e em relação aos outros.
Esta forma de poder aplica-se à vida cotidiana imediata
que categoriza o indivíduo, marca-o com sua própria
individualidade, liga-o à sua própria identidade, impõe-lhe uma lei de verdade, que devemos reconhecer e que
os outros têm que reconhecer nele. (FOUCAULT, 2009,
p. 236)
Quando Camille transgrediu os estereótipos de gênero de
sua época, revelou mecanismos de poder que fabricam
esses estereótipos. Era um exemplo perigoso para outras
mulheres. Portanto, tentaram “corrigir” violentamente
sua “anormalidade”. O que define o anormal é que ele
constitui, em sua existência mesma, a transgressão de
leis invisíveis da sociedade, leis que são naturalizadas.
O anormal desafia aquilo que é demarcado como
impossível e proibido. Imaginem que disparate: uma
mulher esculpindo pedras!
Quando se diz “mecanismo de poder”, não se trata de
uma abstração, mas de um modo de ação de uns sobre os
outros. É uma ação sobre a ação dos outros. É a violência
sobre uma vida, que é forçada, dobrada, reduzida, partida:
esculpida com martelos e espátulas.
LIMA, Daniela. Blog da Boitempo.
Disponível em: <https://goo.gl/xZbHNQ>.
Releia o trecho a seguir.
“Esta forma de poder aplica-se à vida cotidiana imediata
que categoriza o indivíduo, marca-o com sua própria
individualidade, liga-o à sua própria identidade, impõe-lhe
uma lei de verdade, que devemos reconhecer e que os
outros têm que reconhecer nele.”
Em relação aos acentos indicativos de crase, analise as
afirmativas a seguir.
I. Na primeira ocorrência, o acento indica a
contração da preposição “a” com o artigo
determinado “a”.
II. Na segunda ocorrência, o seu uso é obrigatório.
III. Em ambas as ocorrências, o acento é regido pelo
verbo imediatamente anterior à sua ocorrência.
Estão corretas as afirmativas: