- ID
- 3355363
- Banca
- VUNESP
- Órgão
- Prefeitura de Campinas - SP
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto para responder à questão.
Pouco antes de eu completar quatro anos de idade, nasceu nossa irmã mais nova, para quem eu escolhera o nome
de Maria Bethânia, por causa de uma bela valsa do compositor pernambucano Capiba. Mas ninguém se sentia com
coragem de realmente pôr esse nome “tão pesado” num
bebê. Como havia várias outras sugestões, meu pai resolveu escrever todos os nomes em pedacinhos de papel que,
depois de dobrados, ele jogou na copa de meu pequeno chapéu de explorador e me deu para tirar na sorte. Saiu o da
minha escolha. Meu pai então pôs um ar resignado que era
uma ordem para que todos também se resignassem e disse: “Pronto. Agora tem que ser Maria Bethânia”. E saiu para
registrar a recém-nascida com esse nome. Recentemente,
ouvi de minhas irmãs mais velhas uma versão que diz que
meu pai escrevera Maria Bethânia em todos os papéis. Não
é de todo improvável. E, de fato, na expressão resignada de
meu pai era visível – ainda hoje o é, na lembrança – um intrigante toque de humor. Mas, embora me encha de orgulho o
pensamento de que meu pai possa ter trapaceado para me
agradar, eu sempre preferi crer na autenticidade do sorteio:
essa intervenção do acaso parece conferir mais realidade a
tudo o que veio a se passar desde então, pois ela faz crescerem ao mesmo tempo as magias (que nos dão a impressão
de se excluírem mutuamente) do presságio e da unicidade
absolutamente gratuita de cada acontecimento.
(Caetano Veloso. Verdade tropical. São Paulo,
Companhia das Letras, 1997. Adaptado)
Uma frase condizente com a mensagem do texto está em: