SóProvas


ID
3385891
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Cacoal - RO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Uma andorinha não faz verão


No domingo de sol anterior ao Dia de Finados, evitei a praia lotada e subi para um refresco nas Paineiras. Morei dez anos em São Conrado e, na época, costumava fazer o trajeto com frequência, mas desisti do programa, depois de dar com dois corpos desovados pelo caminho. Agora só arrisco a visita nos feriados, quando o parque se enche de gente.

    A beleza do Rio é comparável à sua barbárie. No último mirante, depois da terceira queda d'água, o vento soprava forte, anunciando a virada de tempo na Guanabara. Dezenas de andorinhas aproveitavam a corrente de ar ascendente, impulsionando o voo num vertiginoso balé. Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas. O espetáculo pontuou o fim do passeio.

    Uma semana depois, esperando o sinal abrir no cruzamento da Lagoa, ao lado do Clube do Flamengo, fui surpreendida por uma andorinha solitária, que cruzou o para-brisa do carro a toda. Depois de driblar o trânsito, arriscando a vida num rasante pela via expressa, ela se meteu no vão entre o verde e o vermelho do sinal de pedestres do outro lado da rua.

    Surpresa, percebi um resto de capim seco saindo da fresta do poste. Era um ninho em plena Avenida Epitácio Pessoa. Com tanta mata, tantas árvores e prédios altos na cidade, por que criar filhos num lugar tão desolado? Neurose urbana? Só pode ser.

    Chocar ovos requer um planejamento requintado. É preciso encontrar um parceiro disposto, um endereço seguro e esmerar-se para juntar a palha. Não é algo que pega uma ave de surpresa, como uma contração fora de hora que te obriga a parir na estrada.

    Que anomalia era aquela que fazia um casal de andorinhas trocar o êxtase das Paineiras pela tensão do asfalto? A solidão de uma esquina feia?

    O delírio da passarinhada do alto da Tijuca não tinha nada de humano. Era um estado natural, como o das plantas e o das pedras, sem consciência ou sentido em si. Mas o ser do sinal de pedestres da esquina na Rodrigo de Freitas era um indivíduo escarrado, um quase parente. Ao vê-lo, eu me reconheci na sofreguidão de seu retorno para casa, no esforço de criar os filhos num ambiente inóspito, no risco e na ansiedade.     A andorinha aculturada sou eu.

    Neste mês, o Brasil assassinou um rio e o El aterrorizou Paris. O mundo não anda nada hospitaleiro. Mesmo assim, ainda creio nos ninhos e nas revoadas.

Fernanda Torres. In: fernandatorresvejariol @gmail.com

Em: “impulsionando o voo num vertiginoso balé.”, identifica-se uma figura de linguagem:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    → “impulsionando o voo num vertiginoso balé.”

    → Temos uma figura de linguagem denominada metáfora, ela é responsável por fazer uma comparação implícita entre coisas de mundos diferentes, compara-se o voo com a dança "balé".

    ✓ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • → Figuras de linguagem são expressões conotativas.

    → Figuras de palavras ou semântica:

    • Comparação: relação de comparação entre dois ou mais termos, separados por conjunção.
    • Metáfora: comparação implícita entre dois ou mais termos.
    • Metonímia: substituição de um termo por outro equivalente.
    • Catacrese: emprego inadequado de um termo devido à perda de seu sentido original.
    • Perífrase ou antonomásia: substituição de um termo por outro que o caracterize.
    • Sinestesia: combinação de dois ou mais sentidos do corpo humano.
    • → Figuras de sintaxe ou construção:
    • Elipse: ocultação de palavra ou expressão na estrutura do enunciado.
    • Zeugma: omissão de um termo mencionado anteriormente.
    • Anáfora: repetição de uma ou mais palavras no início dos versos ou orações.
    • Pleonasmo: uso de termo dispensável para enfatizar determinada ideia.
    • Anacoluto: falta de conexão sintática entre o início de uma frase e a sequência de ideias.
    • Silepse: concordância ideológica.
    • Hipérbato: inversão da ordem direta dos elementos de uma oração ou período.
    • Polissíndeto: repetição da conjunção “e”.
    • → Figuras de pensamento:
    • Hipérbole: exagero na declaração.
    • Litotes: afirmação realizada pela negação do contrário.
    • Eufemismo: palavras ou expressões agradáveis para amenizar a declaração.
    • Ironia: sugerir o contrário do que se afirma.
    • Prosopopeia: personificação.
    • Antítese: oposição entre palavras, expressões ou ideias.
    • Paradoxo ou oximoro: antítese que expressa uma contradição.
    • Apóstrofe: interrupção da frase para interpelar ou invocar.
    • Gradação: sequência de ideias.

    → Figuras de som ou harmonia:

    • Aliteração: repetição de consoantes ou sílabas.
    • Assonância: repetição de vogais.
    • Onomatopeia: palavra cuja sonoridade está associada à coisa representada.
    • Paronomásia: palavras parecidas, mas com grafia, som e significado distintos.

  • comparação implícita sem conjunção ou locução conjuntiva comparativa.