SóProvas


ID
3422002
Banca
VUNESP
Órgão
PM-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada!” E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!”

      Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera, a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!” E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

      E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente.

      E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...”

      E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

(Rubem Braga, Meu ideal seria escrever... Elenco de cronistas modernos. Adaptado)

Em relação ao tempo de ocorrência das ações na passagem – que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados – é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • Gab. E

    o verbo "mandasse" encontra-se no pretérito imperfeito do subjuntivo, o que expressa uma possibilidade.

  • Assertiva E

    a ação de ler é anterior à de mandar soltar, que se expressa como uma possibilidade.

  • GABARITO: LETRA E

    [...] que o comissário do distrito, depois de ler (ação que ocorre em primeiro momento) minha história, mandasse soltar (verbo no pretérito imperfeito do subjuntivo, ele está marcando uma hipótese que ocorre após a ação de ler a história) aqueles bêbados.

    ☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Essa questão requer conhecimentos acerca do valor semântico dos tempos e modos verbais.

    Ao ler o texto, percebemos que o tempo verbal predominante é o pretérito imperfeito do modo subjuntivo. O modo subjuntivo exprime incerteza, possibilidade, suposição, condição e desejo.

    O texto passa a ideia de um desejo do autor de que algo possa ser realizado.

    Alternativa (A) incorreta – A ação de ler se expressa como desejo do autor, e a de mandar soltar se expressa como um fato possível não concluído, situando-o em um momento posterior ao passado.

    Alternativa (B) incorreta – As ações de ler e mandar soltar não são simultâneas, pois mandar soltar depende da ação anterior.

    Alternativa (C) incorreta – A ação de mandar soltar é uma condição e é posterior à de ler.

    Alternativa (D) incorreta – De fato, ambas as ações ocorrem no passado, porém há uma ordem de precedência, já que, para que a ação de mandar soltar se concretize, é preciso que haja a ação da leitura, ação esta que ocorre antes da ação de mandar soltar.

    Alternativa (E) correta – Só depois da leitura que a ação de mandar soltar se concretizará. Mandar soltar é uma possibilidade, uma condição, fato que só vai ocorrer depois da leitura. Logo, a ação de ler é anterior à de mandar soltar. Observe que o uso do advérbio de tempo “depois" demarca o momento da ação.


    Em “mandasse soltar", o verbo auxiliar mandar está conjugado no pretérito imperfeito do subjuntivo, e esse tempo verbal exprime uma condição, hipótese; um fato possível não concluído.

    Gabarito da professora: Alternativa E.

  • modo subjuntivo

    presente do subjuntivo: talvez eu mande soltar

    pretérito imperfeito do subjuntivo: se eu mandasse soltar

    futuro do subjuntivo: quando eu mandar soltar

    Jesus respondeu: " O que é impossível para os homens é possível para Deus" (Lucas 18:27).

  •  que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados. Eu chutei a "D" mas a resposta é "E".

    Achei que se ficasse - "que o comissário do distrito, mandasse soltar aqueles bêbados, depois de ler minha história" estaria correto (no pretérito, mesmo que imperfeito do subjuntivo) e como a troca foi de boa, sem ordem de precedência.