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ID
3423277
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Prefeitura de São Bento do Sul - SC
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Ser de casa

Yuri Al'Hanati

     O processo de mudar de cidade se completa quando a urgência de visitar um lugar novo que abriu se impõe sobre o desejo de aclimatação. Até então o que há é um estranhamento cotidiano que pede reconhecimento para se desestranhar. Caminhar por um bairro novo ao qual de repente se precisa ir – para uma consulta médica ou outra frivolidade qualquer – é uma novidade ao qual o migrante está acostumado. O oximoro parece inadequado, mas o migrante o reconhece. Ter, a cada dia na nova urbe, algo diferente a se explorar é um fato que descamba para a banalidade antes que se perceba. Ainda assim, continua-se um explorador da própria terra, na esperança de que possa chamá-la de própria terra o quanto antes.
     Alguém que se mude para uma cidade nova precisará, necessariamente e em primeiro lugar, encontrar âncoras em ruas desconhecidas. Lugares de conveniência e refúgio da estranheza, úteis tanto para fixar a geografia quanto para não ser soterrado pela indiferença do espaço. Um bar, um banco, um mercado, uma farmácia, alguns comércios benfazejos à manutenção da rotina, por mais aquebrantada que se encontre, enfim. Em tais âncoras a vida nativa começa a se desenvolver, em seu gérmen, no interior do migrante. É lá em que ele descobre idiossincrasias locais, estabelece relações comerciais duradouras, esboça suas primeiras conversas fiadas e registra, para os locais, sua estrangeirice. Afixa sua biografia parcial para o improvisado parceiro de cerveja, confessa suas necessidades aos atendentes da farmácia, passa itens domésticos básicos pelos caixas do mercado, enfim, diz ao mundo sobre de onde veio e para onde vai. Arruma alguns amigos, experimenta os mesmos caminhos em direção às mesmas instituições e enfim, sente-se aclimatado. Ainda não.
     É quando, portanto, parte para a situação descrita no começo do texto que a operação o acomete. Agora não é mais a cidade que o examina, partícula invasora da mesmice, mas o contrário. A novidade deixa de ser um enfrentamento diário e passa a ser um acontecimento a ser celebrado, um fenômeno buscado voluntariamente por quem já superou a repetição das gentes, a rigidez do mapa e agora precisa de mais. Tem tempo de urbe o suficiente, inclusive, para experimentar um lugar novo como uma novidade de fato, e não apenas como mais um dos tantos ainda não visitados. Vivencia o novo de forma coletiva, junto aos nativos e, ao examinar em vez de ser examinado, se torna, ele também, um nativo. Ao fim, eis o que o torna uno com o todo: o tédio que exige notícia, a avaliação que o torna parte do conclave tácito de cidadãos.

Disponível em: <http://www.aescotilha.com.br/cronicas/yuri-al-hanati/serde-casa/>. Acesso em: 16 jul. 2019. 

De acordo com as ideias apresentadas no texto, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ? Segundo o texto: O processo de mudar de cidade se completa quando a urgência de visitar um lugar novo que abriu se impõe sobre o desejo de aclimatação. Até então o que há é um estranhamento cotidiano que pede reconhecimento para se desestranhar. Caminhar por um bairro novo ao qual de repente se precisa ir ? para uma consulta médica ou outra frivolidade qualquer ? é uma novidade ao qual o migrante está acostumado

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • O índice de erros nos faz refletir: Será que não fomos bons o suficiente para alcançarmos a astúcia do examinador ou a questão é ruim mesmo...

  • a)ERRADO,  "continua-se um explorador da própria terra, na esperança de que possa chamá-la de própria terra o quanto antes." Isto é, ele tem esperança...

    b)ERRADO, o texto não diz que deixa de ser uma terra de aventura, na verdade, fala da necessidade de se estabelecer locais para frequentar e de como o imigrante vai se tornando nativo aos poucos, alcançando o que, no início, seria sua esperança. " nova precisará, necessariamente e em primeiro lugar, encontrar âncoras em ruas desconhecidas(...) Em tais âncoras a vida nativa começa a se desenvolver, em seu gérmen, no interior do migrante". Além do mais, o texto não fala de novas amizades, mas de relações comerciais e os parceiros de conversa fiada "estabelece relações comerciais duradouras, esboça suas primeiras conversas fiadas e registra, para os locais, sua estrangeirice(...)"

    c)ERRADO, como dito anteriormente, é algo esperado!

    d)CORRETO, é o que vem sendo falar por todo o texto.

  • Qualquer uma estaria certa kkk

  • Qualquer uma estaria certa kkk

  • Vamos lá:

    A - o texto não fala que é impossível se imaginar como pertencente, pelo contrário, ele diz que o novo morador já espera que isso aconteça o quanto antes: "continua-se um explorador da própria terra, na esperança de que possa chamá-la de própria terra o quanto antes".

    B - o texto não fala em aventuras, fala em novidades. Mesmo que se considere sinônimo, as novidades não acabam, elas ficam mais raras e por isso celebradas: "A novidade deixa de ser um enfrentamento diário e passa a ser um acontecimento a ser celebrado, um fenômeno buscado".

    C - realmente é um passo importante, mas o texto não diz que o novo morador não espera por isso, ele afirma que é algo que o morador tem que fazer mesmo: "Alguém que se mude para uma cidade nova precisará, necessariamente encontrar âncoras em ruas desconhecidas".

    D - é a paráfrase desse trecho do texto: "Caminhar por um bairro novo ao qual de repente se precisa ir é uma novidade ao qual o migrante está acostumado".

  •  Caminhar por um bairro novo ao qual de repente se precisa ir – para uma consulta médica ou outra frivolidade qualquer – é uma novidade ao qual o migrante está acostumado.