SóProvas


ID
3475591
Banca
IBADE
Órgão
IDAF-AC
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1


      Antes que elas cresçam


    Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

    É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

    Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

    Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

    Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

   Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

   Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

    Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

    Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

    Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, pôsteres e agendas coloridas de Pilot. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

     Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

     No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

    O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.

     Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.



Affonso Romano de Sant´ Anna (Fonte: http://www.releituras.com/arsant_antes.asp, acesso em janeiro de 2020.) 




Texto 2


POEMA ENJOADINHO


Filhos... Filhos?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo?

Se não os temos

Que de consulta

Quanto silêncio

Como o queremos!

Banho de mar

Diz que é um porrete...

Cônjuge voa

Transpõe o espaço

Engole água

Fica salgada

Se iodifica

Depois, que boa

Que morenaço

Que a esposa fica!

Resultado: filho,

E então começa

A aporrinhação:

Cocô está branco

Cocô está preto

Bebe amoníaco

Comeu botão. F

ilhos? Filhos.

Melhor não tê-los

Noite de insônia

Cãs prematuros

Prantos convulsos

Meu Deus, salvai-o!

Filhos são o demo

Melhor não tê-los...

Mas se não os temos

Como sabê-los?

Como saber

Que macieza

Nos seus cabelos

Que cheiro morno

Na sua carne

Que gosto doce

Na sua boca!

Chupam gilete

Bebem xampu

Ateiam fogo

No quarteirão

Porém, que coisa

Que coisa louca

Que coisa linda

Que os filhos são!


(Fonte: Vinícius de Moraes. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1987. p. 261-2.)

Em ”Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.”, o vocábulo destacado é formado por qual processo formador de palavras?

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? assentam

    ? Temos o verbo -sentam e o acréscimo do prefixo -as ao verbo original (trata-se de uma derivação prefixal).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Juro que às vezes tento, mas não consigo entender a resposta dos colegas

    O verbo é sentar

    Se o verbo for conjugado na 3° pessoal do plural, então teremos:

    Sentam

    Vejam que esse processo faz parte da conjugação de verbos e não da formação de palavras.

    Agora o que queremos saber é: qual o processo que formou a palavra assentam?

    ASsentam - recebeu o prefixo AS, de tal forma que podemos afirmar que o processo de formação é a Derivação Prefixal.

  • Vamos revisar:

    Derivação (1 radical)

    Prefixal: feliz +in

    Sufixal: feliz + mente= felizmente

    Prefixal e sufixal: agregação simultânea de afixos ( prefixos / sufixos) a retirada de um deles = não altera o significando.

    Infelizmente = felizmente= infeliz

    Justaposição: agregação simultânea de afixis na retirada de um deles= a palavra não existe.

    Engaiolar = gaiolar = engaiola.

    Composição: (2 radicais)

    Justaposição; dois radicais sem alteração de nenhuma delas.

    Girassol

    Composição : dois radicais com alteração de 1 termo.

    Plano +Alto = planalto.

    Sucesso, bons estudos não desista!

  • Mas temos o verbo ASSENTAR também.
  • Resumo:

    Derivação Prefixaldesfazer , impaciente.

    Derivação Sufixal: realmente , pacientemente.

    Derivação Prefixal e Sufixaldeslealmente. Se eu remover um deles,a palavra ainda existe: Desleal ou Lealmente.

    Derivação Parassintética: anoitecer. Acrescenta-se simultaneamente um prefixo e um sufixo.Se eu retirar um dos dois,a palavra não existe: anoite ou noitecer.

    Derivação Regressiva: Ocorre redução da palavra primitiva e não acréscimo: dança(dançar)

    Derivação Imprópria: A palavra permanece igual,mas há mudança na classe gramatical.Ex.: O verde do parque ... (Adjetivo => Substantivo)

    Composição por Aglutinação: Há alteração das palavras formadoras: Plano+alto=Planalto; água+ardente=aguardente.

    Composição por Justaposição: Não há alteração das palavras formadoras: beija-flor; paraquedas.

  • Não adianta só fazer questão se não anotar no caderno e assistir a mesma vídeo aula 10 vezes consecutivas, a cabeça precisa de tempo para se acostumar, prefiram ficar estudando 2 horas durante 10 meses, e não 10 horas durante 2 meses.Revisão em cima de revisão, e é na repetição que você chega à perfeição.

  • Assertiva b

    assentam  = Derivação prefixal

  • Pessoal, fiz da seguinte maneira, primeiro observei que na forma sentAM há uma desinência número-pessoa e só depois é feito o processo de derivação prefixal:

    ASsentAM

    Espero ter ajudado!

    Caso esteja errada me corrijam.

  • Sentar(primitiva), as(prefixo) + sentar = assentar (assentam, troca desinência r pela m).

    derivação prefixal.

  • porra, ate aqui propaganda para vender o peixe.. vai se fuder... tudo merda. 

  • entra no perfil da pessoa e bloqueia, assim não aparece mais os comentários

  • Gente, mas o verbo "assentar" existe. Pq não é sufixal??? alguém me ajude a entender, por favor?

  • Gente, não é assento de cadeira. Trata-se do verbo "sentar" => "ASSENTAM"

  • Reforçando: Desinência não é derivação!

  • COMPLEMENTANDO:

    PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

    Há dois processos mais fortes (presentes) na formação de palavras em Língua Portuguesa: a composição e a derivação. Vejamos suas principais características.

    Composição: é muito mais uma criação de vocábulo. Pode ocorrer por:

    *Justaposição (sem perda de elementos):

    Guarda-chuva, girassol, arranha-céu, passatempo, guarda-noturno, flor-de-lis.

    *Aglutinação (com perda de elementos):

    Embora (em + boa + hora) | Fidalgo (filho de algo) | Aguardente (agua + ardente).

    Hibridismo: consiste na união de radicais oriundos de línguas distintas:

    Alcoômetro – Álcool (árabe) + metro (grego) | Burocracia – Buro (francês) + cracia (grego).

    Derivação: é muito mais uma transformação no vocábulo, não se trata necessariamente da criação de uma palavra nova. Ela pode ocorrer das seguintes maneiras:

    Pelo acréscimo de um prefixo (antes da raiz da palavra). Chamaremos de derivação PREFIXAL.

    Reforma, anfiteatro, desfazer, reescrever, ateu, infeliz.

    Pelo acréscimo de um sufixo (após a raiz da palavra). Chamaremos de derivação SUFIXAL.

    Formalmente, fazimento, felizmente, mocidade, teísmo.

    Pelo acréscimo de um sufixo e de um prefixo ao mesmo tempo (com possibilidade de remoção).

    Chamaremos de derivação PREFIXAL E SUFIXAL.

    Infelizmenteateísmodesordenamento.

    Pelo acréscimo simultâneo e irremovível de prefixo e sufixo. É o que se convencionou chamar de PARASSÍNTESE ou DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA.

    Avermelhadoanoiteceremudeceramanhecer.

    Pela regressão de uma forma verbal. É o que chamaremos de DERIVAÇÃO REGRESSIVA OU DEVERVAL: advinda de um verbo. Essa derivação usualmente dá origem a substantivos abstratos.

    Abalo (proveniente do verbo “abalar”) | Agito (proveniente do verbo “agitar”).

    Luta (proveniente do verbo “lutar”) | Fuga (proveniente do verbo “fugir”).

    Pelo processo de alteração classe gramatical. Convencionalmente chamada de CONVERSÃO OU “DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA”.

    jantar – “jantar” é um verbo, mas aqui foi transformado em substantivo.

    Um não – “não” é um advérbio, mas foi transformado em substantivo.

    O seu sim – “sim” é um advérbio, mas foi transformado em substantivo.

    Estrangeirismo:

    Pode-se entender como um tipo de empréstimo linguístico. Ele pode ocorrer de duas maneiras:

    *Com aportuguesamento: abajur (do francês "abat-jour"), algodão (do árabe "al-qutun"), lanche (do inglês "lunch") etc.

    *Sem aportuguesamento: networking, software, pizza, show, shopping etc.