SóProvas


ID
3476368
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara de Mauá - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A ilusão da felicidade

            Do alto de seus mais de 80 anos e sempre com um sorriso calmo e uma dose de ironia, a tia de Leila, Dona Darcy, costuma dizer aos que gostam de se queixar da vida: “Aqui ainda não é o céu, não, gente. Aqui é a Terra. O céu vem depois”.
          Leila se lembra, às vezes, das palavras da tia quando vê pessoas buscando uma felicidade ideal: elas também estão procurando o céu na Terra. Achar que a vida pode ser um mar de rosas é correr o risco de se frustrar a cada meia hora.
          O problema é que essa corrida pela felicidade é estimulada de todas as formas pela cultura consumista em que estamos mergulhados até a cabeça. No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade absurda de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer. Não é: felicidade não se compra, não se encomenda, não se empresta. Somos felizes quando conseguimos, quando a vida permite. E sentir-se infeliz não é nenhum sinal de incompetência ou de baixo poder aquisitivo. Basta existir para estar sujeito à infelicidade. Ou basta não estar anestesiado.
       As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. Muitos querem ser felizes a qualquer preço. Esperam que os filhos sejam felizes, que o trabalho os faça muito felizes, que os romances e casamentos sejam eternamente felizes.
      Melhor seria encolher as expectativas. Se os filhos tiverem momentos felizes, pode-se levantar as mãos para o céu. Se os empregos proporcionarem alguma realização e trouxerem eventuais alegrias, já estarão de bom tamanho. E se os romances e casamentos permitirem que as pessoas vivam instantes prazerosos, se as fizerem rir de vez em quando, se permitirem o crescimento do outro sem opressão, as pessoas podem se dar por satisfeitas.
       Considerar que a felicidade é céu sem nuvens e que somos obrigados a encontrar a felicidade plena porque tudo hoje prega o direito, ou o dever, de ser feliz é afastar cada vez mais a felicidade possível. A obrigação de ser feliz é uma bobagem. A de ser muito feliz, uma loucura. Mas na cultura do muito, as pessoas acabam caindo nessa cilada.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado) 

Segundo o texto, a tia de Leila

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    Segundo o texto: Do alto de seus mais de 80 anos (=TEM MUITA IDADE) e sempre com um sorriso calmo e uma dose de ironia, a tia de Leila, Dona Darcy, costuma dizer aos que gostam de se queixar da vida: “Aqui ainda não é o céu, não, gente. Aqui é a Terra. O céu vem depois”. Leila se lembra, às vezes, das palavras da tia (=SÃO CONSELHOS LÚCIDOS E QUE POSSUEM SIM LÓGICA, OU SEJA, A TIA TEM LUCIDEZ) quando vê pessoas buscando uma felicidade ideal: elas também estão procurando o céu na Terra. Achar que a vida pode ser um mar de rosas é correr o risco de se frustrar a cada meia hora.

    ☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Assertiva C

    tem muita idade, mas mantém a lucidez nas opiniões que dá.

    Do alto de seus mais de 80 anos e sempre com um sorriso calmo e uma dose de ironia, a tia de Leila, Dona Darcy, costuma dizer aos que gostam de se queixar da vida: “Aqui ainda não é o céu, não, gente. Aqui é a Terra. O céu vem depois”

  • Qual o erro da "B"?

  • Nesta questão, seleciona-se pontualmente uma personagem, a tia de Leila. Quando, no comando de um enunciado, solicitar-se a análise de um momento ou de um personagem específico do texto, devemos resgatar o fragmento de origem em que esses elementos específicos são apresentados. Isso nos possibilita a fazer um exame mais apurado daquele recorte do texto que está sendo abordado na questão. Resgatemos o fragmento:

     Fragmento: “Do alto de seus mais de 80 anos e sempre com um sorriso calmo e uma dose de ironia, a tia de Leila, Dona Darcy, costuma dizer aos que gostam de se queixar da vida: “Aqui ainda não é o céu, não, gente. Aqui é a Terra. O céu vem depois". Leila se lembra, às vezes, das palavras da tia quando vê pessoas buscando uma felicidade ideal: elas também estão procurando o céu na Terra. Achar que a vida pode ser um mar de rosas é correr o risco de se frustrar a cada meia hora".

    Segundo o fragmento, a tia de Leila lembra às pessoas que é comum termos problemas e contratempos na vida terrena e que os momentos sublimes ou frequentemente felizes são encontrados “no céu". A autora se utiliza dos ensinamentos da tia como argumento para demonstrar aos leitores que, se buscamos a felicidade o tempo todo, corremos sério risco de nos frustrar.

    Com base nessas reflexões, examinemos as opções para assinalar aquela que apresenta afirmação correta sobre a tia de Leila:


    A) não tem muita consciência do que fala devido à idade avançada.

    ERRADA.

    No texto não há nenhuma informação sobre o fato de a tia de Leila “não ter muita consciência do que fala", ao contrário, a “idade avançada" da personagem é conduzida pela autora como marca de sabedoria, visto que, ao contrário das pessoas em geral, a tia Darcy tinha consciência de que a felicidade plena não se encontra na Terra, sendo assim não haveria muito sentido em reclamar da vida.


    B) aconselha que as pessoas busquem a felicidade suprema na Terra.

    ERRADA.

    Com base no fragmento e na explicação da letra A, sabe-se que, para tia Darcy, a felicidade suprema só se encontra no céu.


    C) tem muita idade, mas mantém a lucidez nas opiniões que dá.

    CORRETA.

    Apesar da idade avançada, a tia de Leila é capaz de usar o tempo como matéria de ensinamentos, tal como se verifica no fragmento em análise. Justamente por isso, mantém-se lúcida, já que utiliza a experiência como base para aconselhar as pessoas, no caso em questão, sobre a não existência da felicidade suprema na Terra.


    D) alerta os familiares para os perigos das aventuras amorosas.

    ERRADA.

    No fragmento em destaque, específico sobre tia Darcy, não se mencionam os “perigos das aventuras amorosas". O que ocorre é que a autora do texto alerta para o fato de que as pessoas não devem esperar que elas e que os seus filhos tenham romances eternamente felizes.


    E) evita dar conselhos sobre questões relacionadas à felicidade humana.

    ERRADA.

    Ao contrário do que ocorre no texto, tia Darcy, em vez de evitar, procurar dar conselhos sobre a não plenitude da felicidade humana.


    Resposta: C

  • Podemos refutar a alternativa B) com alguns trechos:

     "Leila se lembra, às vezes, das palavras da tia quando vê pessoas buscando uma felicidade ideal: elas também estão procurando o céu na Terra. Achar que a vida pode ser um mar de rosas é correr o risco de se frustrar a cada meia hora."

    "As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. Muitos querem ser felizes a qualquer preço. Esperam que os filhos sejam felizes, que o trabalho os faça muito felizes, que os romances e casamentos sejam eternamente felizes.

       Melhor seria encolher as expectativas."

    Qualquer equívoco, comuniquem-me!

  • não tem muita consciência do que fala devido à idade avançada. só eu que ri?