SóProvas


ID
3476371
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara de Mauá - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A ilusão da felicidade

            Do alto de seus mais de 80 anos e sempre com um sorriso calmo e uma dose de ironia, a tia de Leila, Dona Darcy, costuma dizer aos que gostam de se queixar da vida: “Aqui ainda não é o céu, não, gente. Aqui é a Terra. O céu vem depois”.
          Leila se lembra, às vezes, das palavras da tia quando vê pessoas buscando uma felicidade ideal: elas também estão procurando o céu na Terra. Achar que a vida pode ser um mar de rosas é correr o risco de se frustrar a cada meia hora.
          O problema é que essa corrida pela felicidade é estimulada de todas as formas pela cultura consumista em que estamos mergulhados até a cabeça. No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade absurda de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer. Não é: felicidade não se compra, não se encomenda, não se empresta. Somos felizes quando conseguimos, quando a vida permite. E sentir-se infeliz não é nenhum sinal de incompetência ou de baixo poder aquisitivo. Basta existir para estar sujeito à infelicidade. Ou basta não estar anestesiado.
       As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. Muitos querem ser felizes a qualquer preço. Esperam que os filhos sejam felizes, que o trabalho os faça muito felizes, que os romances e casamentos sejam eternamente felizes.
      Melhor seria encolher as expectativas. Se os filhos tiverem momentos felizes, pode-se levantar as mãos para o céu. Se os empregos proporcionarem alguma realização e trouxerem eventuais alegrias, já estarão de bom tamanho. E se os romances e casamentos permitirem que as pessoas vivam instantes prazerosos, se as fizerem rir de vez em quando, se permitirem o crescimento do outro sem opressão, as pessoas podem se dar por satisfeitas.
       Considerar que a felicidade é céu sem nuvens e que somos obrigados a encontrar a felicidade plena porque tudo hoje prega o direito, ou o dever, de ser feliz é afastar cada vez mais a felicidade possível. A obrigação de ser feliz é uma bobagem. A de ser muito feliz, uma loucura. Mas na cultura do muito, as pessoas acabam caindo nessa cilada.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado) 

A leitura do 3º parágrafo permite afirmar que a felicidade

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    De acordo com o 3º parágrafo: O problema é que essa corrida pela felicidade é estimulada de todas as formas pela cultura consumista em que estamos mergulhados até a cabeça. No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade absurda de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer [...].

    Ou seja, a felicidade tem sido associada a algo que compramos (produtos materiais).

    ☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Assertiva A

    O problema é que essa corrida pela felicidade é estimulada de todas as formas pela cultura consumista em que estamos mergulhados até a cabeça. No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade absurda de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer. 

  • Dona darcy tem razao !

  • Esta questão de interpretação e compreensão textual aborda especificamente o terceiro parágrafo. Quando houver a cobrança acerca de um ponto específico do texto, e não de sua ideia central, devemos resgatar o fragmento que deve ser analisado, para melhor compreensão da questão proposta. Sendo assim, retomemos o terceiro parágrafo para releitura:

    Fragmento: “O problema é que essa corrida pela felicidade é estimulada de todas as formas pela cultura consumista em que estamos mergulhados até a cabeça. No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade absurda de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer. Não é: felicidade não se compra, não se encomenda, não se empresta. Somos felizes quando conseguimos, quando a vida permite. E sentir-se infeliz não é nenhum sinal de incompetência ou de baixo poder aquisitivo. Basta existir para estar sujeito à infelicidade. Ou basta não estar anestesiado".

    Verificamos que a autora defende que a felicidade é associada a algo material pelas pessoas e, por essa razão, há frustrações e sofrimentos, pois felicidade não é algo que se compre ou que podemos agendar, como ocorre quando nos programamos a eventos terrenos. A felicidade não pode ser associada a consumo, pois é imaterial e com atravessamentos subjetivos.

    Com base na ideia-chave do parágrafo, examinemos as opções para assinalar aquela cujo comentário sobre a felicidade está correto.


    A) tem sido associada a aspectos materiais da vida.

    CORRETA.

    Como se disse, para a autora, o equívoco dos indivíduos está em acharem que a felicidade é um objeto de consumo e que, como tal, poderá ser comprada, programada. Ainda se defende, no final do parágrafo, que não temos controle sobre a nossa felicidade, pois esta é conduzida pela própria vida: “Somos felizes quando conseguimos, quando a vida permite."


    B) é uma busca humana relacionada ao medo da morte.

     ERRADA.

    Em nenhum momento, no fragmento do terceiro parágrafo, associa-se a felicidade à morte ou ao medo da morte. Esta opção está em “divergência de conteúdo", nome que se dá, em interpretação e compreensão de textos, às opções que divergem completamente ou se diferenciam predominantemente do conteúdo geral do fragmento em análise.


    C) pode ser conquistada quando se tem um ótimo salário.

    ERRADA.

    A letra C traz uma afirmação que se opõe à ideia geral do parágrafo, contrariando sua defesa. Quando isso ocorre, diz-se que há uma “oposição ao conteúdo" da passagem em análise. Se a ideia-chave do parágrafo é a de que “felicidade não se compra", pois não é um objeto de consumo como equivocadamente algumas pessoas pensam, o conteúdo da letra C se opõe plenamente a esse valor já que nele se prega que a felicidade pode ser obtida “quando se tem um ótimo trabalho".


    D) determina o quanto somos capazes ou incapazes.

    ERRADA.

    A felicidade não determina o quanto somos capazes ou não. Segundo o parágrafo, os seres humanos é que, erroneamente, acham que a não conquista da felicidade pode fazê-los sentirem-se incapazes. A autora desmonta essa opinião, argumentando que a felicidade é possibilitada pela vida, que não temos controle sobre isso, sem contar que, “basta existir" para que sejamos acometidos pela infelicidade.


    E) depende de bons casamentos e bons empregos.

    ERRADA.

    Segundo a autora, as pessoas precisam parar de associar a felicidade, sobretudo a felicidade dos filhos, a romances eternos e a emprego dos sonhos, porque somos felizes quando conseguimos e quando a vida permite. A felicidade não é um objeto, nem um produto de consumo, ou algo que se programa com a certeza do sucesso.


    Resposta: A