SóProvas


ID
3487324
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Linhares - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto

O casamento da Lua


O que me contaram não foi nada disso. A mim, contaramme o seguinte: que um grupo de bons e velhos sábios, de mãos enferrujadas, rostos cheios de rugas e pequenos olhos sorridentes, começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente. E de tanto olharem através de seus telescópios, os bons e velhos sábios foram assumindo um ar preocupado e seus olhos já não sorriam mais; puseramse, antes, melancólicos. E contaram-me ainda que não era incomum vê-los, peripatéticos, a conversar em voz baixa enquanto balançavam gravemente a cabeça.

E que os bons e velhos sábios haviam constatado que a Lua estava não só muito pálida, como envolta num permanente halo de tristeza. E que mirava o Mundo com olhos de um tal langor e dava tão fundos suspiros – ela que por milênios mantivera a mais virginal reserva – que não havia como duvidar: a Lua estava pura e simplesmente apaixonada. Sua crescente palidez, aliada a uma minguante serenidade e compostura no seu noturno nicho, induzia uma só conclusão: tratava-se de uma Lua nova, de uma Lua cheia de amor, de uma Lua que precisava dar. E a Lua queria dar-se justamente àquele de quem era a única escrava e que, com desdenhosa gravidade, mantinha-a confinada em seu espaço próprio, usufruindo apenas de sua luz e dando azo a que ela fosse motivo constante de poemas e canções de seus menestréis, e até mesmo de ditos e graças de seus bufões, para distraí-lo em suas periódicas hipocondrias de madurez.

Pois não é que ao descobrirem que era o Mundo a causa do sofrimento da Lua, puseram-se os bons e velhos sábios a dar gritos de júbilo e a esfregar as mãos, piscando-se os olhos e dizendo-se chistes que, com toda franqueza, não ficam nada bem em homens de saber... Mas o que se há de fazer? Frequentemente, a velhice, mesmo sábia, não tem nenhuma noção do ridículo nos momentos de alegria, podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas, numa curiosa volta à infância. Por isso perdoemos aos bons e velhos sábios, que se assim faziam é porque tinham descoberto os males da Lua, que eram males de amor. E males de amor curam-se com o próprio amor – eis o axioma científico a que chegaram os eruditos anciãos, e que escreveram no final de um longo pergaminho crivado de números e equações, no qual fora estudado o problema da crescente palidez da Lua.

(MORAES, Vinícius de. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 52-53, excerto.)

Na oração “A mim, contaram-me o seguinte” (1º §), a repetição do pronome de 1ª pessoa do singular constitui:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ?  ?A mim, contaram-me o seguinte? (1º §)

    ? Temos um objeto direto pleonástico (usa-se normalmente o pronome oblíquo átono para retomar enfaticamente um objeto direto que já existe e que vem no início da oração (facultativamente separado por vírgula)); trata-se de uma redundância usada para dar ênfase (não é indispensável).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Arthur, nesse caso não seria objeto indireto?

  • Sim, estamos diante de um objeto indireto pleonástico. Em 80% dos casos aparece com uma vírgula antes..

    Não esqueça que podemos ter objetos diretos ou indiretos pleonásticos.

    A gramática considera correta a utilização quando por motivo de ênfase.

    Alguns exemplos:

    OD´S:

    Meus amigos, Respeito-os muito.

    Suas Roupas, Passei-as ontem

    OI´S:

    Aos gatos, Dava-lhes ração.

    A mim , Ensinaram-me belas lições.

    Spadoto

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • De saída, deve-se notar a regência do verbo "contar". Na acepção em tela, é bitransitivo (possui dois complementos verbais). Pode-se raciocinar: conta-se algo a alguém; entretanto, o autor serviu-se de um subterfúgio da língua portuguesa: o objeto pleonástico. Para criar esse efeito, recorre-se ao pleonasmo, figura de linguagem que consiste na repetição prescindível de termo ou segmento. É notório que o autor replicou o objeto do verbo: "a mim" e "me". Há objeto pleonástico na estrutura do enunciado, portanto. Analisando as opções:

    a) Incorreto. Não se trata de descuido. O escopo do autor foi proposital;

    b) Incorreto. Não se visa chamar atenção, mas apetrechar o texto com um recurso disponível em nossa língua, isto é, o objeto pleonástico;

    c) Incorreto. O objeto pleonástico dispensa posição pré-definida dentro da estrutura. Poderia, com correção, vir em posição distinta daquela do texto. Ex.: Contaram-me o seguinte a mim.

    d) Correto. Conforme expresso na explanação inicial, o autor quis conferir à estrutura um efeito estilístico;

    e) Incorreto. Não é indispensável, mas sim opcional.

    Letra D

  • ✔GABARITO: D.

    ⁂Complementando com mais exemplos de objeto Indireto Pleonástico

    A mim, entregaram-me o dinheiro. Objeto Indireto/Objeto Indireto Pleonástico.

    Ao menino, dei-lhe o livro. Objeto Indireto/Objeto Indireto Pleonástico.

  • Qual seria o erro das demais alternativas?

  • GABARITO D - uma redundância enfática comum a textos literários.

    Estamos diante de uma figura de linguagem: ANACOLUTO

    Altera a sequência lógica da frase por meio de uma pausa no discurso.

    Realiza uma interrupção na estrutura sintática da frase.

    Enfatiza uma ideia ou mesmo uma pessoa do discurso. Normalmente o termo inicial fica "solto" na frase sem apresentar uma relação sintática com os outros termos.

    Ex.:

    Na linguagem oral

    "Eu, acho que estou passando mal."

    "Nora, lembro-me dela sempre que chego aqui."

    "Crianças, como são difíceis de lidar."

    "Portugal, quantas lembranças tenho."

    Na literatura

    Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura.” (Manuel Bandeira)

    Eu, porque sou mole, você fica abusando.” (Rubem Braga)

    O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem Braga)

    Umas carabinas que guardavam atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestáveis.” (José Lins do Rego)

    A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)

    E o desgraçado tremiam-lhe as pernas, sufocando-o a tosse.” (Almeida Garret)

    Além de ser usado na linguagem literária e musical, o anacoluto é utilizado na linguagem coloquial (informal). Na linguagem cotidiana ele é empregado pela espontaneidade típica desses tipos de discursos

  • GABARITO: D. uma redundância enfática comum a textos literários.

    O emprego dos pronomes "mim" e "me" no trecho: “A mim, contaram-me o seguinte” constitui uma redundância enfática, pois ambos expressam a mesma coisa e um deles poderia ser suprimido sem prejudicar o entendimento do trecho:

    • “Contaram-me o seguinte”

    • “A mim, contaram o seguinte”

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