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ID
3496507
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O PASTEL E A CRISE

Otto Lara Resende


      Quando a crise convida ao pessimismo ou a ameaça descamba na depressão, está na hora de ler poesia ou prosa, tanto faz.

      A partir de certa altura, bom mesmo é reler. Reler sobretudo o que nunca se leu, como repeti outro dia a um amigo que não é chegado à leitura. Ele mergulhou no Proust sem escafandro e se sente mal quando vem à tona e respira o ar poluído aqui de fora.

      Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual. Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença, mas era também fruto do aprendizado que só a experiência dá. No pequeno mundo do cotidiano, sabia como ninguém identificar as boas coisas da vida. E assim viveu até o último instante.

      Certa vez, no auge de uma crise, crivada de discursos e de diagnósticos, o Rubem estava de olho nas frutas da estação. Madrugador, cedinho já sabia das coisas. Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.

      Num dia de greve geral, inquietações no ar, tudo fechado, o Rubem me telefonou: “Vamos ao bar Luís, na rua da Carioca? Vamos ver a crise de perto”. E lá fomos. O bar estava aberto e o chope, esplêndido. Começamos por um preto duplo, que a sede era forte. Depois mais um, agora louro. Claro que não faltou o salsichão com bastante mostarda. Calados, mas vorazes, cumpríamos um rito. Alguém por perto disse que a Vila Militar tinha descido com os tanques.

      Saímos dali e fomos a um sebo. O Rubem comprou “Xanã”, do Carlos Lacerda, com dedicatória. Depois pegamos o carro e voltamos pelo Aterro, onde se pode exercer o direito da livre eructação. Tinha sido um perfeito programa cultural. E sem nenhum incentivo do governo. Vi agora na televisão que o maracujá está em baixa e me lembrei do velho Braga.

      Nem tudo está perdido. Fui à feira e comprei também dois suculentos abacaxis. Caem bem nesta hora de atribulação nacional. Só falta agora descobrir um bom pastel de palmito na Zona Norte. Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta . Depois, de cabeça erguida , enfrentaríamos a crise e até o caos.

(RESENDE, O. Lara. Fonte: https://edoc.site/149572393-as-cem-melhores-cronicas-brasileiras-011-gpdf-pdf-free.html)

O vocábulo sublinhado no fragmento “Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso...” (§ 4) é formado por derivação sufixai.

Dos vocábulos abaixo, foi formado por derivação parassintética:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    → enfrentar → A derivação parassintética ocorre pelo acréscimo, ao mesmo tempo, de um prefixo e um sufixo a um radical já existente; foi acrescentado o prefixo "en" + sufixo "ar" e nenhum dos dois podem ser tirados, pois faria com que uma palavra inexistente fosse formada (frentar ou enfrent).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Poxa, 4ª questão seguida de português que eu vejo um erro de digitação. Mais atenção quem está digitando.

  • Quanto as demais:

    A) Derivação sufixal => pessimismo

    B) Composição por justaposição => quando as palavras se unem sem perder nenhuma letra => roda + pé = rodapé

    C) Composição por justaposição => pé + direito = pé-direito(mesmo caso da B)

    D) Derivação sufixal => madrugador

    Recomendo esse slide resumido sobre formação de palavras:

    https://pt.slideshare.net/priaguiar54/formao-das-palavras-45421862

  • Gab: E

    Derivação parassintética:

    >> Acrescenta-se à palavra primitiva prefixo e sufixo.

    A) ERRADA: pessimismo >> Derivação sufixal;

    B) ERRADA: Rodapé >> Composição por justaposição;

    C) ERRADA: Pé-direito >> Composição por justaposição;

    D) ERRADA: madrugador >> Derivação sufixal;

    E) CORRETA: Enfrentar >> prefixo + sufixo >> derivação parassintética;

  • Exemplo > "Amanhecer" se tirar os afixos a palavra não existi.

  • A questão é sobre o assunto formação das palavras e quer que encontremos na alternativa uma palavra formada por derivação parassintética. Vejamos o conceito:

    Ocorre esse evento quando há acréscimo simultâneo de prefixo e de sufixo a uma palavra primitiva (substantivo ou adjetivo). Uma maneira clássica de perceber se a palavra sofreu derivação parassintética é retirar o prefixo ou o sufixo. Se alguma palavra sobrar com a retirada de um dos afixos e fizer sentido, existindo na língua portuguesa, mantendo o sentido do radical, aí não houve derivação parassintética.

    Antes vale lembrar que na palavra "borrascoso" houve derivação sufixal, pois houve um acréscimo para frente da palavra borrasca.

    Após vermos a teoria, podemos analisar cada assertiva. Analisemos:

    a) Incorreta.

    Pessimismo.

    Houve uma derivação sufixal da palavra péssimo.

    b) Incorreta.

    Rodapé.

    Na palavra rodapé houve uma composição por justaposição que é quando duas palavras que já existem se juntam de maneira justa sem que nenhuma delas perca elementos para formar uma outra. Roda+ pé= rodapé .

    c) Incorreta.

    Pé-direito.

    Temos a mesma ocorrência da alternativa anterior. Composição por justaposição.

    d) Incorreta.

    Madrugador.

    Temos um caso de derivação sufixal que é o caso que a palavra cresce para frente, ganhando um sufixo.

    e) Correta.

    Enfrentar.

    Nessa palavra se retirarmos o sufixo en ficará frentar e essa palavra não existe, se tiramos ar ficaria enfrent. Portanto é uma derivação parassintética.

    GABARITO: E

  • justificativa da IBADE: A derivação parassintética é aquela que se dá com o acréscimo, ao mesmo tempo, de um prefixo e de um sufixo à palavra primitiva. Esse processo dá origem principalmente a verbos, obtidos a partir de substantivos e adjetivos: enraivecer, esbagulhar, anoitecer, etc.