SóProvas


ID
3496510
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O PASTEL E A CRISE

Otto Lara Resende


      Quando a crise convida ao pessimismo ou a ameaça descamba na depressão, está na hora de ler poesia ou prosa, tanto faz.

      A partir de certa altura, bom mesmo é reler. Reler sobretudo o que nunca se leu, como repeti outro dia a um amigo que não é chegado à leitura. Ele mergulhou no Proust sem escafandro e se sente mal quando vem à tona e respira o ar poluído aqui de fora.

      Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual. Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença, mas era também fruto do aprendizado que só a experiência dá. No pequeno mundo do cotidiano, sabia como ninguém identificar as boas coisas da vida. E assim viveu até o último instante.

      Certa vez, no auge de uma crise, crivada de discursos e de diagnósticos, o Rubem estava de olho nas frutas da estação. Madrugador, cedinho já sabia das coisas. Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.

      Num dia de greve geral, inquietações no ar, tudo fechado, o Rubem me telefonou: “Vamos ao bar Luís, na rua da Carioca? Vamos ver a crise de perto”. E lá fomos. O bar estava aberto e o chope, esplêndido. Começamos por um preto duplo, que a sede era forte. Depois mais um, agora louro. Claro que não faltou o salsichão com bastante mostarda. Calados, mas vorazes, cumpríamos um rito. Alguém por perto disse que a Vila Militar tinha descido com os tanques.

      Saímos dali e fomos a um sebo. O Rubem comprou “Xanã”, do Carlos Lacerda, com dedicatória. Depois pegamos o carro e voltamos pelo Aterro, onde se pode exercer o direito da livre eructação. Tinha sido um perfeito programa cultural. E sem nenhum incentivo do governo. Vi agora na televisão que o maracujá está em baixa e me lembrei do velho Braga.

      Nem tudo está perdido. Fui à feira e comprei também dois suculentos abacaxis. Caem bem nesta hora de atribulação nacional. Só falta agora descobrir um bom pastel de palmito na Zona Norte. Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta . Depois, de cabeça erguida , enfrentaríamos a crise e até o caos.

(RESENDE, O. Lara. Fonte: https://edoc.site/149572393-as-cem-melhores-cronicas-brasileiras-011-gpdf-pdf-free.html)

“Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão."


O trecho acima, extraído do quarto parágrafo, tem alta voltagem poética, por estar construído numa sequência de:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    → “Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.”

    → Temos uma encadeamento de uma linguagem metafórica, a metáfora é uma forma para você dar um sentido figurado a algo por meio de comparações sem o uso de conectivos, trata do emprego de uma palavra fora do seu sentido básico, recebendo nova significação, usada em uma comparação implícita entre seres de universos distintos.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Gab: B

    “Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão."

    >> A metáfora consiste no uso de uma palavra ou expressão no lugar da outra, estabelecendo uma comparação subjetiva e momentânea.

  • A) Prosopopeia = figura pela qual o orador ou escritor empresta sentimentos humanos e palavras a seres inanimados, a animais, a mortos ou a ausentes; personificação, metagoge.

    C) Hipérbole = ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística; auxese, exageração (p.ex.: morrer de medo, estourar de rir ).

    D) Antíteses = é uma figura de linguagem caracterizada pela apresentação de palavras de sentidos opostos. A palavra antítese tem origem no termo grego antithesis, que significa resistência ou oposição.

    E) melon imias = ????

  • Pra mim isso é uma prosopopeia, e não uma metáfora. Não parece haver comparação nenhuma ali, ainda que indireta.

  • Assertiva b

    construído numa sequência de metáforas.

  • oxe , mas manter olhar fixo agora no horizonte,baixar olhar, é normal agora ?! isso é prosopopeia !!

  • Pessoal que utiliza o gerador de simulados do QC, me ajudem a solicitar a melhora nesse sistema de simulado, não permitem a 'impressão' (ou salvar como PDF) mais de 20 questões, algo totalmente sem sentido.. dentre outros problemas com os simulados.

  • Mesmo não fazendo diferença a minha humilde discordância e alguns colegas ainda achem "argumentos" para justificar o gabarito da banca, não vejo metáfora, mas sim prosopopeia.

    A metáfora estabelece uma palavra com significado de outra em vista de uma relação.

    A prosopopeia estabelece características humanas a seres inanimados (que está muito mais presente na afirmativa): andava (estava), se punha a par, mantinha o olhar, baixava o olhar.

  • Na dúvida, marque metáfora.

  • Essa caberia recurso!
  • eu marquei prosopopeia, e entraria com recurso

  • Que loucura, cara. Todo dia eu tenho que fazer algum comentário de ódio à IBADE/FUNCAB.