SóProvas


ID
3501739
Banca
FUMARC
Órgão
CRP - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

QUE TEMPOS, ESTES!

Lya Luft


      Em todas as épocas houve quem desse esta exclamação: que tempos!

      “A gente não entende mais nada” é outra. Mas as pessoas sempre querem saber tudo, entender tudo, com preguiça de usar a sua própria maravilhosa imaginação. Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”, como se diz.

      Não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar o brilho dos afetos, o calor dos abraços.

      “De repente, eu tenho oitenta anos”, comentou com ar de surpresa minha mãe, antes que a enfermidade lhe roubasse a consciência de si e de nós. De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão. E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso, não corrupto, não destruidor do cotidiano digno ou possível de seus filhos.

      “Vivemos tempos estranhos” é frase repetida em todos os níveis. Tempos confusos, surpreendentes, cada dia uma chateação maior, uma confusão mais elaborada, uma perplexidade mais pungente. (Ainda bem que nos salvamos com novidades boas: os bebês que nascem, as crianças que começam a trotar naquele encantador jeito só delas, os amigos que recuperam a saúde, a família que se encontra, os amados distantes que se comunicam mais, o flamboyant delirando em vermelhos surreais na rua.) 

      Nós, os incautos pagadores de contas, contadores de trocados e trocadores de emprego (ou simplesmente sem ele), não sabemos bem o que fazer. “Tá tudo muito esquisito”, comentamos uns com os outros, alguns querendo ir embora, outros querendo aguentar até que tudo melhore, porque é a terra da gente, e muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto.

      Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante.

      Mas que está ruim está, todas as providências hoje nos deixam duvidosos, e as festas andam sem o brilho de outros tempos, essa é a verdade. Onde estão as ruas iluminadas numa competição de beleza em tantos bairros da cidade no Natal, por exemplo? A gente pegava o carro para ver, de noite, toda aquela cintilação.

      Hoje mal saímos de casa na noite escura.

      Mas não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar outro brilho, nos tempos tormentosos: o brilho dos afetos, o calor dos abraços, a sinceridade na tolerância e o respeito pelas manias, esquisitices, aflições alheias – porque é tempo de aflições. Dá algum trabalho manter a ciranda emocional lubrificada e funcionando com certa mansidão, mas também traz um enorme conforto, apesar da unhada eventual da mágoa, da saudade ou da preocupação – que, diga-se de passagem, é a inefugível marca das mães.

      Complicado: se de um lado corre, de outro lado o rio parece se arrastar. Depende do ângulo pelo qual olhamos, do quanto sobra no bolso antes do fim do mês, depende do emprego seguro, da capacidade de alegria, depende de pessoas decentes, depende de recursos, para que a grande engrenagem enferrujada volte a funcionar, e o tempo seja de mais alegria e mais aconchego de uns com os outros.

Sobre a constituição do texto, pode-se afirmar:

Alternativas
Comentários
  • A banca forçou a barra nessa questão, para mim a mais correta é a letra A. De fato no no 6 parágrafo encontramos este trecho que expressa otimismo :

     

    " ....alguns querendo ir embora, outros querendo aguentar até que tudo melhore, porque é a terra da

    gente, e muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto..."

     

    Mas no 4 parágrafo já encontramos traços de otimismo: " De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão." E voltaremos a ser um país simpático,

  • Não concordo , ja reparei que as questões de interpretação são muito mal feitas .

  • Se não prevalece a linguagem formal, então não sei que linguagem é essa rrrss

  • eu não entendo nada de interpretação de texto dessa banca, o pior é que eles raramente fazem a anulação ou alteração do gabarito das questões que os candidatos entram com recurso. Está sendo bem difícil entender a cabeça desse fumaMaconha do examinador.

  • A – ERRADA

    Apesar de possuir algumas palavras rebuscadas, o texto está cheio de frases como “A gente não entende mais nada”, “Não dá pra ver só o vazio no copo”, “um pouco malandro”. A linguagem predominante, portanto, é a informal

    B – ERRADA

    A expressão “que tempos” tem uma quantidade infindável de significados. Exemplo: clima (que tempos chuvosos), períodos históricos (que tempos medievais), grandeza física (que tempos dilatados são os de objetos próximos à velocidade da luz), autores (que tempos shakespearianos), coisas negativas (que tempos sombrios), coisas positivas (que tempos agradáveis), etc.

    Assim sendo, são as linhas seguintes que contextualizam o primeiro parágrafo (e não o contrário)

    C – CERTA

    3º parágrafo: “..não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar o brilho dos afetos, o calor dos abraços...”.

    De fato, o parágrafo acima é otimista

    De fato, o 6º parágrafo (“...muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto..”) não retoma a mesma ideia do 3º parágrafo, mas o enunciado diz “a partir do sexto parágrafo. Assim sendo, a letra C refere-se também ao que foi dito nos parágrafos seguintes.

    10º parágrafo: “...Mas não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar outro brilho, nos tempos tormentosos...”

    D – ERRADA

    Conforme exposto na fonte a seguir (e não no texto)...

    "...Nos textos argumentativos, como a dissertação, uma das regras é escrever com impessoalidade, porque esta característica proporciona maior credibilidade ao texto.

    “...Teremos a impessoalidade no uso dos verbos na 3ª pessoa do singular e do plural (geralmente acompanhados do pronome “se”). Também é recomendada a utilização da 1ª pessoa do plural, que é mais impessoal do que a primeira pessoa do singular….”

    Fonte: https://www.estudokids.com.br/a-impessoalidade-no-texto-dissertativo/

  • então Prevalece a linguagem informal? não entendi.

  • Estranho esse gabarito. Para mim, o otimismo está presente a partir do décimo período. Do sexto ao nono é só bad vibes:  

     6° parágrafo: Nós, os incautos pagadores de contas, contadores de trocados e trocadores de emprego (ou simplesmente sem ele), não sabemos bem o que fazer. “Tá tudo muito esquisito”, comentamos uns com os outros, alguns querendo ir embora, outros querendo aguentar até que tudo melhore, porque é a terra da gente, e muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto.

    7° parágrafo: Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante.

    8° parágrafo: Mas que está ruim está, todas as providências hoje nos deixam duvidosos, e as festas andam sem o brilho de outros tempos, essa é a verdade. Onde estão as ruas iluminadas numa competição de beleza em tantos bairros da cidade no Natal, por exemplo? A gente pegava o carro para ver, de noite, toda aquela cintilação.

    9° parágrafo: Hoje mal saímos de casa na noite escura.

  • Há sim trechos de linguagem informal , mas estão todas sendo usadas por aspas .Prevalecendo a linguagem FORMAL.

  • Esse texto pode ser caracterizado como uma crônica, em que a linguagem predominante é simples e COLOQUIAL.

    Ser coloquial não é necessariamente ter erros, mas ser uma linguagem mais informal como a falada no dia a dia. Portanto a letra A está incorreta.

  • A linguagem formal é a que prevalece. Existem traços de linguagem informal, mas a que PREVALECE é a formal. O texto está de acordo com a normal culta da língua quase em sua totalidade.

    Gabarito inexplicável.