SóProvas


ID
3501745
Banca
FUMARC
Órgão
CRP - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

QUE TEMPOS, ESTES!

Lya Luft


      Em todas as épocas houve quem desse esta exclamação: que tempos!

      “A gente não entende mais nada” é outra. Mas as pessoas sempre querem saber tudo, entender tudo, com preguiça de usar a sua própria maravilhosa imaginação. Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”, como se diz.

      Não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar o brilho dos afetos, o calor dos abraços.

      “De repente, eu tenho oitenta anos”, comentou com ar de surpresa minha mãe, antes que a enfermidade lhe roubasse a consciência de si e de nós. De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão. E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso, não corrupto, não destruidor do cotidiano digno ou possível de seus filhos.

      “Vivemos tempos estranhos” é frase repetida em todos os níveis. Tempos confusos, surpreendentes, cada dia uma chateação maior, uma confusão mais elaborada, uma perplexidade mais pungente. (Ainda bem que nos salvamos com novidades boas: os bebês que nascem, as crianças que começam a trotar naquele encantador jeito só delas, os amigos que recuperam a saúde, a família que se encontra, os amados distantes que se comunicam mais, o flamboyant delirando em vermelhos surreais na rua.) 

      Nós, os incautos pagadores de contas, contadores de trocados e trocadores de emprego (ou simplesmente sem ele), não sabemos bem o que fazer. “Tá tudo muito esquisito”, comentamos uns com os outros, alguns querendo ir embora, outros querendo aguentar até que tudo melhore, porque é a terra da gente, e muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto.

      Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante.

      Mas que está ruim está, todas as providências hoje nos deixam duvidosos, e as festas andam sem o brilho de outros tempos, essa é a verdade. Onde estão as ruas iluminadas numa competição de beleza em tantos bairros da cidade no Natal, por exemplo? A gente pegava o carro para ver, de noite, toda aquela cintilação.

      Hoje mal saímos de casa na noite escura.

      Mas não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar outro brilho, nos tempos tormentosos: o brilho dos afetos, o calor dos abraços, a sinceridade na tolerância e o respeito pelas manias, esquisitices, aflições alheias – porque é tempo de aflições. Dá algum trabalho manter a ciranda emocional lubrificada e funcionando com certa mansidão, mas também traz um enorme conforto, apesar da unhada eventual da mágoa, da saudade ou da preocupação – que, diga-se de passagem, é a inefugível marca das mães.

      Complicado: se de um lado corre, de outro lado o rio parece se arrastar. Depende do ângulo pelo qual olhamos, do quanto sobra no bolso antes do fim do mês, depende do emprego seguro, da capacidade de alegria, depende de pessoas decentes, depende de recursos, para que a grande engrenagem enferrujada volte a funcionar, e o tempo seja de mais alegria e mais aconchego de uns com os outros.

Há interlocução entre locutor e locutário, EXCETO em

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: A

    A) “Dá algum trabalho manter a ciranda emocional lubrificada e funcionando com certa mansidão [...]” → Não temos qualquer marca de interlocução entre locutor e locutário, temos a nossa resposta.

    B) “De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão” → Uso do pronome possessivo "nossas" para marcar uma interlocução entre locutor e locutário.

    C) “E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso [...]” → Uso de verbos na 1ª pessoal do plural (nós) para marcar uma interlocução entre locutor e locutário.

    D) “Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante” → Uso de verbos na 1ª pessoal do plural (nós) para marcar uma interlocução entre locutor e locutário.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Antes de resolver a questão, vamos entender alguns conceitos:

    Locutor -> aquele que fala

    Locutário -> aquele que ouve

    Interlocutor -> qualquer um dos dois acima que participam da conversa.

    No momento que você lê este comentário, eu sou locutor, você é locutário e ambos somos interlocutores.

    _____________________________________________________________________________________

    Na questão, o examinador pede a assertiva em que a autora do texto NÃO se remete ao leitor, uma forma muito fácil de identificar a interlocução é observar a presença de determinadas pessoas verbais. Veja:

    2º pessoa do singular (tu) exemplo: "NÃO FUME" / "SE DIRIGIR, NÃO BEBA"

    1º pessoa do plural (nós) exemplos:

    "De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão” = letra B

    "E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso [...]" = letra C

    “Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante” = letra D

    2º pessoa do plural (vós) = "Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus."

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  • observei que todas as opções estavam no plural ,exceto uma. bingo.
  • Interlocução é a comunicação entre locutor e locutário.

    Uma forma de identificação mais fácil é o diálogo na 1° pessoa do plural nós.

    Seguindo esse pensamento a questão pede a alternativa que não contenha esse diálogo.

    Portanto, gabarito letra A

    Dá algum trabalho manter a ciranda emocional lubrificada e funcionando com certa mansidão

  • ate que as questoes de 2019 dessa bancas são razoáveis,já de 2017 pra traz são horríveis..
  • Sem enrolação.

    Interlocução é o mesmo que diálogo. Num diálogo ocorre a presença de um falante e um ouvinte. No caso, o autor é o falante e você é o ouvinte. A única opção que não lhe insere no diálogo é a letra A.

    B) “De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão”.

    C) E [nós]voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso [...]”.

    D) Todos [nós] imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante”.

  • eu nao acredito q eu acertei uma questão de portugues da FUMARC!!!!! Obrigado MEU DEUS