SóProvas


ID
3501757
Banca
FUMARC
Órgão
CRP - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

QUE TEMPOS, ESTES!

Lya Luft


      Em todas as épocas houve quem desse esta exclamação: que tempos!

      “A gente não entende mais nada” é outra. Mas as pessoas sempre querem saber tudo, entender tudo, com preguiça de usar a sua própria maravilhosa imaginação. Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”, como se diz.

      Não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar o brilho dos afetos, o calor dos abraços.

      “De repente, eu tenho oitenta anos”, comentou com ar de surpresa minha mãe, antes que a enfermidade lhe roubasse a consciência de si e de nós. De repente, quem sabe, então, vão-se resolver nossas aflições civis de hoje, e as econômicas, e o sentimento de desamparo e confusão. E voltaremos a ser um país simpático, um pouco malandro, quem sabe, mas não criminoso, não corrupto, não destruidor do cotidiano digno ou possível de seus filhos.

      “Vivemos tempos estranhos” é frase repetida em todos os níveis. Tempos confusos, surpreendentes, cada dia uma chateação maior, uma confusão mais elaborada, uma perplexidade mais pungente. (Ainda bem que nos salvamos com novidades boas: os bebês que nascem, as crianças que começam a trotar naquele encantador jeito só delas, os amigos que recuperam a saúde, a família que se encontra, os amados distantes que se comunicam mais, o flamboyant delirando em vermelhos surreais na rua.) 

      Nós, os incautos pagadores de contas, contadores de trocados e trocadores de emprego (ou simplesmente sem ele), não sabemos bem o que fazer. “Tá tudo muito esquisito”, comentamos uns com os outros, alguns querendo ir embora, outros querendo aguentar até que tudo melhore, porque é a terra da gente, e muitos são, como esta que escreve, reis em sua zona de conforto.

      Todos imaginamos, procuramos, uma solução, que parece impossível ou distante.

      Mas que está ruim está, todas as providências hoje nos deixam duvidosos, e as festas andam sem o brilho de outros tempos, essa é a verdade. Onde estão as ruas iluminadas numa competição de beleza em tantos bairros da cidade no Natal, por exemplo? A gente pegava o carro para ver, de noite, toda aquela cintilação.

      Hoje mal saímos de casa na noite escura.

      Mas não dá pra ver só o vazio no copo, na vida, no país, no horizonte. O jeito é multiplicar outro brilho, nos tempos tormentosos: o brilho dos afetos, o calor dos abraços, a sinceridade na tolerância e o respeito pelas manias, esquisitices, aflições alheias – porque é tempo de aflições. Dá algum trabalho manter a ciranda emocional lubrificada e funcionando com certa mansidão, mas também traz um enorme conforto, apesar da unhada eventual da mágoa, da saudade ou da preocupação – que, diga-se de passagem, é a inefugível marca das mães.

      Complicado: se de um lado corre, de outro lado o rio parece se arrastar. Depende do ângulo pelo qual olhamos, do quanto sobra no bolso antes do fim do mês, depende do emprego seguro, da capacidade de alegria, depende de pessoas decentes, depende de recursos, para que a grande engrenagem enferrujada volte a funcionar, e o tempo seja de mais alegria e mais aconchego de uns com os outros.

Na frase: “Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”, como se diz,”. nada é

Alternativas
Comentários
  • 'nada' é um pronome indefinido na maioria das vezes.

    Mas no contexto está empregado como substantivo.

    Tem sentido de 'O que não existe; o não ser.'

    Dica: observe o artigo 'o' antes.

  • ✅ Gabarito: D

    ✓  “Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”, como se diz,”.

    ➥ O termo "nada", em circunstância normais, é um pronome indefinido, porém, ocorreu uma derivação imprópria ou conversão (=mudança da classificação morfológica de uma palavra, a depender do contexto). O artigo definido "o" substantivou o termo, transformou em substantivo.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Toda palavra que recebe determinante um determinante como, artigo, pronome ou numeral se converte em substantivo. Professora Jacira Fernandes tem uma teoria mais fácil de ser compreendida.

  • A presença de um ARTIGO pode SUBSTANTIVAR qualquer coisa! Exemplo:

    "O obedecer é melhor que o sacrificar!" = verbos substantivado

    "Achei o atrevido!"= adjetivo substantivado

    "Finalmente, para o nada" = pronome indefinido substantivado

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  • Sobre o comentário de Samuel Carlos, a Jacira é a melhor professora de Português que conheço. quem não aprender com ela pode desistir.

  • A questão exige conhecimento sobre classes gramaticais e quer saber qual classificação da palavra "nada" no trecho abaixo. Vejamos:

     “Corremos com o tempo, ou contra ele, para outra vida, para novos horizontes, em círculo nos lugares e pessoas que amamos, finalmente para o nada ou para “um lugar melhor”,

    a) Incorreta.

    O adjetivo é uma classe gramatical que caracteriza o substantivo, entretanto, a palavra apresentada não possui essa função.

    Ex: João pequeno não conseguiu subir o morro por causa do seu tamanho.

    b) Incorreta.

    O pronome demonstrativo é classe gramatical que tem a função de demonstrar algo e são representados pelos seguintes pronomes: esta, este, isto, essa, isso, aquele, aquela, aquele, aquilo...

    c) Incorreta.

    O pronome indefinido é classe gramatical que se refere a algo vago e são estes: algum, nenhum, todo, outro, certo, bastante, qualquer, quanto, qual, vários, muito, etc

    d) Correta.

    O substantivo nomeia seres, lugares, coisas, sentimentos. Ficou tranquilo de perceber que é um substantivo, pois está precedido do artigo "o".

    Gabarito do monitor: D

  • Gab D

    , finalmente para o nada 

    A palavra Nada seria um pronome indefinido caso não tive o artigo antes substantivando ela.