SóProvas


ID
3577300
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itápolis - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Mal-educados ou educados mal?


      O prédio em que estou, em Nova York, tem uma piscina coberta no último andar. Numa tarde da semana passada, éramos dois nadando na piscina. De repente, apesar dos ouvidos tapados pela touca de borracha e da cabeça na água, ouvi um estardalhaço de gritos insensatos. Parecia que a piscina estava sendo invadida pela excursão não monitorada de uma classe de estudantes do Fundamental.

      De fato, era só um menino, 7 ou 8 anos, mas que gritava como uma turma inteira. Não dava para entender nada de seus gritos, e não estou certo de que ele estivesse querendo se comunicar: gritava, mas sem angústia, pelo prazer de fazer barulho.

      Ele era acompanhado por três mulheres – suponho que uma fosse a mãe e as duas outras, uma babá e uma empregada. (Babá aos 8 anos? Pois é.) O menino não tinha dificuldade motora alguma, mas as três o preparavam para entrar na água. Duas retiravam a camiseta, enquanto outra, ajoelhada, tirava os chinelos.

      Logo chegou outro menino, acompanhado por mais uma babá. Os gritos incompreensíveis não duplicaram porque não havia como eles aumentarem mais. Os dois meninos ficaram então pulando na água e subindo pela escada – ótima brincadeira, mas por que sempre gritando? Por que manifestar sua excitação parecia mais importante do que brincar?

      Os meninos não eram mal-educados. Eles eram educados mal, que é pior. Digo isso porque eles gritavam? Não, claro. Eles eram educados mal porque eram privados da autonomia de tirar chinelos e camiseta. E, sobretudo, eram educados mal porque nada lhes sugeria que eles pudessem ser apenas uns entre outros. Para os cuidados e os olhares extasiados das quatro mulheres, eles precisavam manter uma cansativa e barulhenta encenação de sua unicidade*. Nada demais naquela ocasião (só uns gritos), mas a crença na unicidade privilegiada da gente se transforma, ao longo da vida, na cansativa obrigação de ser sempre “diferente” e extraordinário.

*unicidade: qualidade ou estado de ser único; singularidade.

(Contardo Calligaris. www.folha.uol.com.br/colunas/ contardocalligaris/2016/01/1731576-mal-educados-ou-educados-mal.shtml, 21.01.2016. Adaptado)

Segundo o autor, os meninos eram “educados mal”, principalmente, porque

Alternativas
Comentários
  • Assertiva E

    Nada demais naquela ocasião (só uns gritos), mas a crença na unicidade privilegiada da gente se transforma, ao longo da vida, na cansativa obrigação de ser sempre “diferente” e extraordinário.

  • ✅ Gabarito: E

    ✓ Segundo o texto, no final do último parágrafo: Para os cuidados e os olhares extasiados das quatro mulheres, eles precisavam manter uma cansativa e barulhenta encenação de sua unicidade. Nada demais naquela ocasião (só uns gritos), mas a crença na unicidade privilegiada da gente se transforma, ao longo da vida, na cansativa obrigação de ser sempre “diferente” e extraordinário.

    ➥ Em outras palavras, estavam sendo tratados como seres especiais, o que, no futuro, resultará na exigência de agir continuamente como se fossem especiais.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • A "chave da resposta" está no adjetivo ESPECIAL, pois o que é " especial" obviamente não é GERAL, sendo assim, dada a especificação de Singularidade que as crianças acreditavam possuir, quando o autor usa o termo UNICIDADE, nos leva a interpretar a letra E como a correta.. afinal aquilo que é tido como ESPECIAL consequentemente carrega uma ideia de "unicidade privilegiada" ( mesmo que de forma subjetiva, como no caso das crianças educadas mal)