- ID
- 3646960
- Banca
- FAUEL
- Órgão
- Câmara de Jaguapitã - PR
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Memórias Póstumas de Brás Cubas
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias
pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro
lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto
o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente
método: a primeira é que eu não sou propriamente
um autor defunto, mas um defunto autor, para quem
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito
ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés,
que também contou a sua morte, não a pôs no
introito, mas no cabo: diferença radical entre este
livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas
da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de
1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha
uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
amigos! Verdade é que não houve cartas nem
anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma
chuvinha miúda, triste e constante, tão constante
e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última
hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso
que proferiu à beira de minha cova: - “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer
comigo que a natureza parece estar chorando a
perda irreparável de um dos mais belos caracteres
que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio,
estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso
é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais
íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao
nosso ilustre finado.”
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás
Cubas. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar
Editora, 1971, volume I, p. 513)
É possível afirmar que o texto acima pode ser mais
adequadamente classificado como: