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ID
3721186
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFRB
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 
Brumadinho, Mariana, impunidade e descaso

Nenhum dos envolvidos no desastre de 2015 foi responsabilizado, e a fiscalização continuou precária mesmo depois da primeira tragédia: ingredientes para mais uma catástrofe

       Pouco mais de três anos depois do desastre de Mariana, do qual Minas Gerais ainda luta para se recuperar, mais um rompimento de barragem da mineradora Vale assombra o país. Desta vez, como afirmou o presidente da empresa, Fabio Schvartsman, o custo ambiental pode até ter sido menor que o de Mariana, mas o custo humano foi muito maior. (...) Como é possível que dois desastres dessas dimensões tenham ocorrido em um espaço que, para este tipo de situação, pode ser considerado curto?
         Mariana – cuja barragem pertencia à Samarco, joint-venture entre a Vale e a britânica BHP Billiton – deveria ter servido de aprendizado, mas todas as informações que surgiram após o desastre de Brumadinho mostram que os esforços nem das empresas responsáveis, nem do Estado brasileiro foram suficientes para evitar que outro episódio catastrófico ocorresse. A empresa certamente sabe que a preservação e a prevenção compensam; os danos de imagem podem ser diferentes daqueles que atingem outros tipos de negócios – o público não pode simplesmente “boicotar” uma mineradora, por exemplo –, mas também existem, e a Vale sentiu, nesta segunda-feira, a perda de seu valor de mercado. Schvartsman chegou a dizer que a empresa fez todo o possível para garantir a segurança de suas barragens depois de Mariana, mas agora se sabe que “todo o possível” não bastou.
           A palavra ausente neste período entre Mariana e Brumadinho é “responsabilização”. O Ministério Público Federal denunciou 21 pessoas e as três empresas (Samarco, Vale e BHP Billiton) pelo desastre de Mariana, mas ainda não houve julgamento. A Gazeta do Povo apurou que, das 68 multas aplicadas após a tragédia de 2015, apenas uma está sendo paga, em 59 parcelas. A demora para que os responsáveis paguem pela sucessão de irresponsabilidades que levou ao desastre certamente não incentiva as mineradoras a manter boas práticas de prevenção de desastres que possam ir além do estritamente necessário.
          Os dados mais estarrecedores, no entanto, vieram dos relatórios governamentais que mostram uma inação quase completa do poder público na fiscalização do estado das barragens no país. O Relatório de Segurança de Barragens de 2017, da Agência Nacional de Águas, mostra que apenas 27% das barragens de rejeitos (caso tanto de Mariana quanto de Brumadinho) foram vistoriadas em 2017 pela Agência Nacional de Mineração. Há 45 barragens com “algum comprometimento importante que impacte a sua segurança”. A informalidade é a regra: 42% das barragens cadastradas nos órgãos de fiscalização não têm nenhum tipo de documento como outorga, autorização ou licença. E, nos poucos casos em que há vistoria, ela é feita por amostragem de algumas áreas da barragem, o que pode ignorar pontos críticos. É assim que tanto a barragem de Fundão, em Mariana, como a da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, foram consideradas seguras. Ainda mais revoltante é a informação de que a Câmara de Atividades Minerárias da Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais aprovou uma ampliação de 70% no complexo Paraopeba (onde se encontrava a barragem que estourou em Brumadinho) de forma apressada, rebaixando o potencial poluidor da operação para que o licenciamento ambiental pudesse pular fases.
             A atividade mineradora é atribuição da iniciativa privada, mas a fiscalização é uma obrigação do Estado. E os relatórios demonstram que o governo não deu importância a esse trabalho nem mesmo depois de Mariana. Como resultado desta omissão coletiva, dezenas, possivelmente centenas, de vidas perderam-se em Brumadinho. Mortes que poderiam ter sido evitadas se o caso de 2015 tivesse levado a uma responsabilização rápida por parte da Justiça, um trabalho mais cuidadoso por parte das empresas de mineração e uma fiscalização abrangente feita pelo governo.
Adaptado de: <https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/brumadinho-mariana-impunidade-e-descaso-6621e4i8qg00dhyqctji1wdh2/>.
Acesso em: 04 abr. 2019.

Para fundamentar a tese defendida no texto, qual recurso argumentativo, em especial, foi usado?

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: A

    ✓ Os dados mais estarrecedores, no entanto, vieram dos relatórios governamentais que mostram uma inação quase completa do poder público na fiscalização do estado das barragens no país. O Relatório de Segurança de Barragens de 2017, da Agência Nacional de Águas, mostra que apenas 27% das barragens de rejeitos (caso tanto de Mariana quanto de Brumadinho) foram vistoriadas em 2017 pela Agência Nacional de Mineração. Há 45 barragens com “algum comprometimento importante que impacte a sua segurança”. A informalidade é a regra: 42% das barragens cadastradas nos órgãos de fiscalização não têm nenhum tipo de documento como outorga, autorização ou licença.

    ➥ A informação de dados estatísticos, elabarodas por uma Agência de notoriedade, faz com que o texto possua um teor de veracidade e, dessa forma, traga mais credibilidade.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Critério muito subjetivo para a resposta, poderia muito bem ser a letra B. Será que uma citação de uma voz de autoridade, do presidente da Vale, não daria mais credibilidade ao texto? Inst. AOCP mantendo a escrotice... e sempre comentários do nosso amigo Arthur confirmando a resposta... ele deve ver primeiro a resposta e depois comenta.... ai é mole!

  • Pelo que percebi, o foco do texto não está na empresa causadora da tragédia, mas sim na falta de fiscalização do poder público. Logo a tese do texto é essa, a falta fiscalização correta do poder público.

    Então, amigo Ruddi de Oliveira Santos, a questão está correta, pois, para fundamentar a tese defendida no texto foi usado o número de barragens fiscalizadas em 2017 (27%).

    A fala do presidente dá mais credibilidade ao texto, mas não esta totalmente ligada a tese defendida pelo autor.

    Logo, gabarito letra A.

    Se eu tiver errado, em avisem, por favor.

  • A gramática do Pestana mostra que dados estatísticos e testemunho de autoridade são estratégias argumentativas.

    Fica sendo o item A para comprovar essa parte do texto

    "Nenhum dos envolvidos no desastre de 2015 foi responsabilizado, e a fiscalização continuou precária mesmo depois da primeira tragédia: ingredientes para mais uma catástrofe"

  • Alguém pode explicar por que não poderia ser a D?

  • LETRA - A

    Os textos argumentativos, são escritos com a intenção de levar o leitor a concordar com o ponto de vista do autor por meio de uma argumentação consistente por ele apresentada. Normalmente são utilizadas comparações, estatísticas, opiniões de autoridades no assunto, fatos e etc.

  • F U N D A M E N T A, somente dados embasam/fundamentam. O restante são recursos.

  • Dois importantes fatores nos levam a altertiva A.

    1. Tópico Frasal: Os dados mais estarrecedores, no entanto, vieram dos relatórios governamentais que mostram uma inação quase completa do poder público na fiscalização do estado das barragens no país." O tópico que inicia tal parágrafo reflete uma maior importância as informações descritas no decorrer desse parágrafo. Portanto, podemos entender que o recurso argumentativo de maior valor se dará a partir daí. Além disso, o tópico também introduz que as informações serão informadas por meio de "dados".
    2. Uso de dados estatísticos: Dados são geralmente embasados em grandes estudos e isso confere mais valor que um discurso, ainda que seja de determinada autoridade.