- ID
- 3728527
- Banca
- Instituto Consulplan
- Órgão
- Prefeitura de Orlândia - SP
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Feliz por nada
Geralmente, quando uma pessoa exclama “Estou tão
feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma
promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos
que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu
costumo torcer para que essa felicidade dure um bom
tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é
seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas.
Muito melhor é ser feliz por nada.
Digamos: feliz porque maio recém começou e temos
longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável.
Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o
elogiou.
Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a
alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje.
Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há
lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.
Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é
ser feliz por muito.
Feliz por nada, nada mesmo?
Talvez passe pela total despreocupação com essa
busca. Essa tal de felicidade inferniza.
“Faça isso, faça aquilo.” A troco? Quem garante que
todos chegam lá pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso
com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se
concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu
cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando
alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”,
também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade
é calma.
Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é
tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente
assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa,
como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos
colaterais de se estar vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que
não se cobram por não terem cumprido suas resoluções,
que não se culpam por terem falhado, não se torturam por
terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido
perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que
sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento.
De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser
livre.
Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora
ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir
tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa
ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que
mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você
é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de
opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso.
(MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. Disponível em: https://www.
refletirpararefletir.com.br/4-cronicas-de-martha-medeiros. Acesso em:
20/09/2019.)
refletirpararefletir.com.br/4-cronicas-de-martha-medeiros. Acesso em:
20/09/2019.)
Sobre a crônica escrita por Martha Medeiros, marque V
para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) As novidades envelhecem, por isso uma felicidade
segura depende das metas atingidas.
( ) A felicidade não deve estar condicionada a um motivo
ou razão.
( ) A felicidade não admite falhas ou imperfeições.
( ) Para ser feliz, é preciso se autoconhecer.
A sequência está correta em