SóProvas


ID
3754159
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Marília - SP
Ano
2017
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Em relação à contratransferência, as abordagens alinhadas à Psicanálise recomendam, de modo geral, que o terapeuta procure

Alternativas
Comentários
  • A questão requer conhecimentos acerca do fenômeno da contratransferência na clínica psicanalítica.
    Na psicanálise a relação paciente - terapeuta é fundamental para a evolução do tratamento. No setting, podem ocorrer situações que remontam aos relacionamentos primários tanto do paciente quanto do analista.

     Nesse sentido, na transferência, o paciente se identifica com seu analista, o qual a relação pode propiciar um deslocamento de sentimentos e conflitos de objetos primários significativos de sua infância para a figura do analista, ao qual este deve entender que seu papel é identificar as projeções realizadas pelo paciente e usá-las para o processo de cura. Na psicanálise, a transferência deve ser estabelecida para que haja o manejo clínico quanto as conflitivas mais primárias do paciente.

    Enquanto que na contratransferência ocorre o mesmo fenômeno, mas na figura do analista. Ou seja, os conteúdos trazidos pelo paciente podem propiciar sentimentos positivos ou negativos no analista, resultante de sentimentos inconscientes de suas próprias relações primitivas. Dessa forma, o analista deve se manter atento para identificar esses sentimentos, seja positivo ou negativo, para não prejudicar a relação terapêutica ali estabelecida.

    Tanto a transferência quanto a contratransferência podem ser de tonalidade afetiva positiva (sentimentos de amor, ternura, afeto), como negativa (ódio, hostilidade, agressividade).

    Agora vamos dar uma olhadinha nas alternativas:

    1. FALSA

    Primeiramente, no campo analítico, não se fala em princípio de liberdade de expressão como versa no Direito Constitucional! Os sentimentos de contratransferência devem ser identificados e resolvidos pelo próprio analista, não devem ser expostos no setting terapêutico. A exposição dos seus sentimentos ocasionaria confusão no paciente, seja por resistência ao tratamento, seja por sentimentos ambivalentes externos ao intrapsiquismo do paciente.
    Além disso, a psicanálise retrata sobre a importância da neutralidade do analista para o tratamento, justamente para evitar interferências/influências no campo analítico.

    Caso o analista não consiga lidar com sentimentos contratransferenciais para o manejo na clínica, o ideal seria ele mesmo procurar terapia com outro profissional. 

    1. VERDADEIRA

    A contratransferência se dá mediante os processos transferenciais ocorridos no setting. São inter-relacionados!  Os sentimentos trazidos pelo paciente podem suscitar diversos sentimentos no analista. O analista deve compreender que as situações trazidas são conflitos inconscientes do sujeito e que é possível usar tais aspectos para trabalhar a sua contratransferência, respondendo ao paciente da forma mais adequada para atender a transferência. Por isso se faz essencial identificar os sentimentos do próprio analista para que não seja usada de forma inadequada por este para o manejo clínico.

    Como fazer isso? O analista deve realizar a escuta flutuante e a interpretação analítica, compreendendo de fato o que é trazido pelo paciente ou por ele mesmo na relação analítica

    1. FALSA

    Não se deve negar os sentimentos contratransferenciais. Devem ser trabalhadas e elaboradas pelo analista. Negar sentimento revela resistência do próprio terapeuta em lidar com seus próprios sentimentos. O fenômeno da contratransferência não necessariamente é algo negativo. Pode ser trabalhado pelo analista com os fenômenos transferenciais do paciente, como versa a alternativa anterior, e nesse caso tem grande valor na progressão da análise.


    1. FALSA

    Os sentimentos do analista (a contratransferência) é uma resposta aos conteúdos inconscientes trazidos pelo paciente (transferência). Não há como falar em dissociação!

    Se o paciente não traz seus conteúdos, o analista não responde a eles. Logo, não há contratransferência. Ambos estão imbricados. 

    1. FALSA

    O final da alternativa já nos mostrou que o item está incorreto. Se externaliza o sentimento gerado na relação para o paciente, o analista pode provocar a quebra da aliança terapêutica. Esses sentimentos causam resistência, frustração e ambivalência pela figura do analista. Por isso a importância da neutralidade, pois o que deve ser trabalhado são os sentimentos do paciente e a partir da consciência dos sentimentos do analista. Como nos mostra a alternativa correta dessa questão, o terapeuta precisa identificar seus sentimentos frente aos conteúdos internos do paciente, mas usá-los como manejo clínico, não externalizando de forma direta ao paciente para não assustá-lo.

    Gabarito da professora: Letra B
  • Gabarito B - integrar o entendimento obtido com a contratransferência em interpretações transferenciais em termos dos conflitos inconscientes do paciente.

  • Muito bom.

  • “Assim, em minha opinião, as tarefas do analista incluem abster-se de comunicar sua contratransferência ao paciente (de modo a assegurar sua própria liberdade interna, para investigar inteiramente seus sentimentos e fantasias), e integrar o entendimento obtido com sua contratransferência em interpretações transferenciais em termos dos conflitos inconscientes do paciente.”

    Kernberg (1995)