E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos
três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as vergonhas. Nas mãos traziam arcos
com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o batel; e Nicolau lhes fez sinal que pousassem
os arcos. E eles pousaram. Não podia ali haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar
quebrar na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava
na cabeça e um sobreiro preto. Um deles deu-lhe um sobreiro de penas de aves, compridas, com
uma copazinha pequena, de penas vermelhas pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal
grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o
capitão manda a Vossa Alteza, e com isso se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles
mais fala, por causa do mar. (CORTESÃO, 1943, p. 202).
Segundo Eneida Leal Cunha, em Ainda a Carta de Caminha, ao se lançar um olhar contemporâneo
sobre a narrativa de Caminha, é correto afirmar:
Incluído na história da literatura, a Carta de Pero Vaz de Caminha é um texto informativo valioso e
imprescindível para o conhecimento da terra e de seus habitantes.