A máquina extraviada
Você sempre pergunta pelas novidades daqui deste
sertão, e finalmente posso lhe contar uma importante.
Fique o compadre sabendo que agora temos aqui uma
máquina imponente, que está entusiasmando todo
o mundo. Desde que ela chegou — não me lembro
quando, não sou muito bom em lembrar datas — quase
não temos falado em outra coisa; e da maneira que o
povo aqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis,
é de admirar que ninguém tenha brigado ainda por
causa dela, a não ser os políticos. [...]
Já existe aqui um movimento para declarar a máquina
monumento municipal. [...] Dizem que a máquina já tem
feito até milagre, mas isso — aqui para nós — eu acho
que é exagero de gente supersticiosa, e prefiro não ficar
falando no assunto. Eu — e creio que também a grande
maioria dos munícipes — não espero dela nada em
particular; para mim basta que ela fique onde está, nos
alegrando, nos inspirando, nos consolando.
VEIGA, J. J. A máquina extraviada: contos.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
Qual procedimento composicional caracteriza a
construção do texto?