O craque crespo
Desde que Neymar despontou no futebol, uma de
suas marcas registradas é o cabelo. Sempre com um
visual novo a cada campeonato. Mas nesses anos de
carreira ainda faltava o ídolo fazer uma aparição nos
gramados com seu cabelo crespo natural, que ele
assumiu recentemente para a alegria e a autoestima dos
meninos cacheados que sonham ser craques um dia.
É difícil assumir os cachos e abandonar a ditadura do
alisamento em um mundo onde o cabelo liso é tido como
o padrão de beleza ideal. Quando conseguimos fazer
a transição capilar, esse gesto nos aproxima da nossa
real identidade e nos empodera. Falo por experiência
própria. Passei 30 anos usando cabelos lisos e já nem me
lembrava de como eram meus fios naturais. Recuperar
a textura crespa, para além do cuidado estético, foi um
ato político, de aceitação, de autorreconhecimento e de
redescoberta da minha negritude.
O discurso dos fios naturais tem ganhado uma
representação cada vez mais positiva, valorizando a
volta dos cachos sem cair no estereótipo do “exótico”,
muito comum no Brasil. O cabelo crespo, definitivamente,
não é uma moda passageira. Torço que para Neymar
também não seja.
Alexandra Loras é ex-consulesa da França em
São Paulo, empresária, consultora de empresas e
autora de livros.
LORAS, A. O craque crespo. Disponível em: http://diplomatique.org.br.
Acesso em: 1 set. 2017.
Considerando os procedimentos argumentativos
presentes nesse texto, infere-se que o objetivo da autora é